] domingo, setembro 09, 2007
 

Não entendo de blogs. A não ser pra consumo próprio. Alguns amigos, estudiosos da ferramenta, de seus usos e práticas, esses sim entendem. Por isso que a reflexão que eu estou começando a fazer está longe de algo dito com propriedade acadêmica. Mas diz respeito as minhas práticas como bloguista, blogueira, enfim.

Pra mim, os blogs são uma ferramenta social. Servem pra construção de identidades, pra apropriação, recriação, reconstrução de discursos, pra fazer circular falas que normalmente estariam restritas, uma vez que não fazem parte de um processo midiático “oficial”. Alguns ensaiam a prática midiática fazendo blogs de jornalismo. Outros testam e exercitam a escrita em blogs temáticos. Outros usam o blog como forma de registro. Outros – e é nesse grupo que, considero, estou inserida – usam o blog como espaço de exercício de fala. O oCinematographo surgiu de uma vontade de falar de cinema do jeito que eu quisesse e acabou se tornando um espaço pra eu falar de tudo do jeito que eu quisesse, inclusive – e principalmente – de mim (na verdade, de como eu vejo o mundo e do mundo que eu vejo, o que inclui o cinema e os filmes especificamente).

Mas o blog é, por natureza, um espaço público de leitura. E, considerando que permite comentários, um espaço público de conversação. É democrático dentro de parâmetros, já que exige competências, aparatos e bom senso no uso. Dentro desses parâmetros, consegue ser uma ferramenta de interação social que até chega a promover a interação fora de seu âmbito. Se a pessoa sabe escrever, se tem computador e internet, essa pessoa tem acesso à democracia do blog. Mas se ela não tem bom senso nos usos, o blog funciona como qualquer prática humana, e é aí que brigas acontecem, também é aí que personas se tornam non gratas.

É bem verdade que fazer o exercício público de construção e exposição de sua identidade é, também, uma forma de imposição de uma identidade. Soa narcisista, mas é menos apocalíptico que isso. Um blogueiro não impõe aos cidadãos falantes de uma língua a sua identidade. Pessoas lêem blogs por motivos variados: pra conhecer gente, pra se divertir, pra bisbilhotar, pra discutir, pra saber sobre coisas, pra acompanhar narrativas (narrativas do eu, inclusive). Mas não são obrigadas ou constrangidas a lê-los ou conviver com eles.

O bom senso no uso do blog enquanto espaço de conversação é moeda de trânsito que garante a permanência e a própria sobrevivência nesse meio. Algumas pessoas, no entanto, não possuem ou não podem possuir essa moeda.

Assim como os entusiastas do Orkut que entopem os scrap-books de seus amigos, conhecidos ou menos que isso com correntes inúteis; como os analfabetos funcionais do e-mail, que ocupam servidores propagando pra todos os seus contatos as mensagens menos desejáveis; na blogosfera há os que, não sabendo fazer uso de sua possibilidade de interação, criam formas de participação que subvertem a ordem do bom senso.

Em espaços não-moderados de comentário, é permitida a discordância, a opinião, a apropriação de um momento e lugar de fala pra uso que se enquadre nos parâmetros determinados tacitamente pelos usuários. Não é desejada, porém é tolerada, a prática do desvio de assunto, do uso do espaço específico pra outros fins que não os de comentário de postagem. É indesejada, rechaçada e vista com maus olhos a interferência anônima, que normalmente acontece com o intento de falar qualquer coisa impunemente. E totalmente intolerada e repudiada a prática do parasitismo de posts e comentários de forma geral, que é quando alguém faz do espaço de diálogo que é a parte de comentários como se fosse uma carta pessoal ao blogueiro, um monólogo sem fim que visa a imposição de sua própria identidade e/ou uma forma de insultar, detonar brigas ou mesmo de incitação à discussão vazia ou à troca de xingamentos.

Pessoas que fazem isso, de modo geral, não são bem quistas nos blogs. E são vistas com impaciência quando fazem tais coisas circulando entre blogs. Normalmente, são ignoradas. Algumas, porém, não compreendendo o significado dessa resposta, apelam. Continuam. As que são repudiadas, sentem-se excluídas e, de modo geral, acusam os blogueiros de panelinha, protecionismo e autoritarismo.


Eu me pergunto. Convido amigos pra jantar. Esses amigos convidam amigos. Todos podem falar, e os amigos dos amigos acabam se tornando amigos também. Habitués. Íntimos, com certo tempo e observância de regras tácitas (as quais são dominadas por todos os seres humanos de bom senso). Mas se um deles age em desagravo, se um deles chuta o cachorro do anfitrião, que é defensor dos animais, aliás, será, no mínimo, repudiado. Isso é autoritarismo (repudiar)?


Se um deles, em resposta ao repúdio, quebrar a porcelana do anfitrião, insultá-lo, der na cara dele, isso é motivo suficiente pra que a esse habitué seja mostrada a porta da casa. Isso é autoritarismo?


Os blogs são espaços sociais. Como em/para todos os espaços sociais – ajudem aí, pesquisadores de bloguinhos – exigem regras de convivência e prática. De outro jeito, é impossível. Porque mesmo a “anarquia” define suas balizas. E de anarquismo eu entendo, hein?


[ Penkala ] 02:16 ] 10 comentários

 
eu uso óculos




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