] quarta-feira, outubro 15, 2008
 


eu entrei com 4,5 anos pro colégio. era uma criança complicada, porque antisocial com crianças (eu só sabia conviver com adultos, até então). era antisocial também porque já era uma cdf desde então (nerd alert - one adam twelve!), e meus coleguinhas me achavam esquisita. e eu também não sabia lidar com minha própria frustração e inadequação, então eu era um bichinho do mato.

nunca lidei muito bem com um não. a ponto de me enfurecer quando pedia emprestado algo que era negado. não que eu fosse mimada, porque simplesmente não. bem pelo contrário. meus pais nunca me criaram achando que eu podia ter tudo. até porque não podia mesmo. eu só não conseguia lidar com o fato de que algumas coisas me fossem negadas pelo simples fato de que não gostavam de mim. apesar de detectar isso, e relatar no boletim, minha primeira professora de jardim de infância sempre foi legal comigo, nunca me tratou mal por ser antisocial. só me tratou com carinho. e eu sempre gostei dela. até porque, por ser criada entre adultos, sempre admirei os professores mais que os coleguinhas.

e eu, hoje, queria dizer pra ela que agradeço por ela ter sido minha professora.

e eu tive uma professora na primeira série. rígida pra caramba. tinha um aparelho de borracha nos dentes de trás que parecia um chiclete. quando ela me mandou tirar o chiclete da boca (isso era regra na sala de aula), eu perguntei por que ela comia chiclete e eu não podia. ela, apesar disso, me alfabetizou com perfeição. tanto que a coisa que sempre gostei de fazer desde então foi escrever e ler. e foi rígida, porém delicada, explicando que aquilo que ela tinha na boca era um aparelho, não um chiclete.

gostaria de dizer pra ela hoje que agradeço imensamente, já que foi me ensinando a ler e escrever tão bem que ela fez de uma nerdezinha básica uma leitora voraz e uma escrivinhadora apaixonada. ela já morreu, e eu fico sempre com uma pontinha de tristeza quando lembro do nome dela e penso que nunca mais vou poder encontrar com ela e dizer tudo o que eu queria.

eu tive uma professora de história que me fez querer levar os livros de aula pras férias pra poder aprender tudo. ela dava aula de história como quem explica como abrir uma torneira, a gente aprendia as coisas de forma simples. gostaria de dizer pra ela que me desculpo, mas não me arrependo, porque em vez de devolver os livros no final do ano, eu levei mesmo pra casa e li tudo nas férias.

eu tive uma professora de matemática que nunca conseguiu me ensinar essa disciplina. porque eu não consigo compreender mesmo. mas me fez, rígida e muito braba, mas com argumentos delicados e lógicos, compreender que a matemática não faz só gente aprender matemática, mas faz as pessoas fazerem o raciocínio andar.

minha madrinha foi minha professora de português, e com ela que eu aprendi principalmente a dar aula. como ia com ela de volta pra casa sempre (ela dava aula no mesmo colégio onde estudei toda a minha vida), se saía da minha aula mais cedo, não tinha aula ou coisa parecida, ia esperar por ela sentada na classe grande de professor, enquanto ela tentava fazer os alunos compreenderem como se usava as palavras. foi quando ela ensinava uma turma de oitava série a soletrar otorrinolaringologista (ela sempre gostou de palavras grandes, apesar de odiar palavrão) - e eu devia estar na quarta série, sei lá - que eu escrevi, no quadro, essa palavra, pela primeira vez.

hoje vou dizer pra ela que agradeço pelas aulas, assim como agradeço ela ter me criado e cuidado de mim como se fosse minha mãe, já que era minha madrinha e minha mãe precisava se ausentar várias vezes (porque estudava e trabalhava).

e na faculdade, tive professores que nunca fizeram mestrado, mas que eram, já, meus mestres. um deles um mestre de jornalismo, que acabou se tornando meu amigo depois, e sendo uma ponte para meu primeiro emprego na área. mês que vem, pessoalmente, eu vou lá pro congresso na minha antiga faculdade e agradeço pessoalmente pelo exemplo. o outro, um mestre de cinema, que era dureza, difícil, complicado, odiado por muitos, mas uma cabeça privilegiada e que topou ser meu orientador de monografia apesar de eu viver dizendo pra ele que não gostava do Woody Allen. foi honesto, rígido, democrático e generoso naquele semestre estressante do ano 2000. e hoje eu queria voltar lá no consultório dele (além de dar aula de estética e de cinema, era dentista), onde várias vezes ele me recebeu pra orientação, e dizer que hoje eu estou dando aula de cinema graças a essa primeira inspiração dele. e ao meu esforço, claro, que ele sempre incentivou.

e no mestrado, professores que eram doutores, mas mantinham em mente que mesmo doutores, mestres nunca deixam de ser mestres. agradeço a eles, por me fazerem compreender coisas que eu jamais pensei que existissem, e por me tratarem com o respeito que jovens padawans precisam, e com a severidade que idem. alguns devem ler esse blog, então a esses já digo obrigada.

aí eu entrei no doutorado. e tive mestres que eram doutores e eu, agora, era mestre. continuei aprendendo com eles, porque há mestres padawan, e há os mestres jedi. aos meus professores do doutorado, mestres jedi, agradeço aqui e assim que encontrar com eles no corredor da faculdade.

porque agora eu vou à faculdade com freqüência, mas não pras aulas deles. eu vou pra colocar em prática aquilo tudo que fui arquivando ao longo desses 26 anos: o que fazer, o que não fazer, que professor ser, que professor não ser. agora eu estou lá na frente, diante dum monte de gurizada que vão pra faculdade pra assistir minhas aulas e acham que isso é importante. eu sempre, nesses momentos, tenho em mente os meus mestres jedi. porque eu me projeto nesses alunos e penso: que professor eu queria ter quando estava no lugar deles? que professor eu precisava?

aos meus alunos, também agradeço, por confiarem nas minhas aulas.

(e ao marido, que é professor também, um parabéns pelo dia de hoje)

(e aos meus colegas padawans que também estão, junto comigo, aprendendo a ser jedi. opa. professores. abraço aí, bando de nerds!)



[ Penkala ] 15:13 ] 0 comentários

 
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