] quinta-feira, outubro 29, 2009
 
síndrome de janeane garofalo




teve uma vez que eu me apaixonei perdidamente por um amigo meu. ele é meu amigo até hoje (apesar de ser advogado). fora meu pai, ele foi o único homem que me carregou no colo depois dos 5 anos de idade. eu machuquei o joelho, feio mesmo, e ele me carregou no colo escadaria acima até a sala de aula. porque eu era seca e ele já era muito grande. e isso foi depois. foi depois de eu cometer a asneira de dizer que eu gostava dele.

só que eu não larguei assim, na latinha. eu escrevi. eu escrevi uma cartinha, e não foi por ser romântica, mas por não conseguir expressar o que eu queria sem ser escrevendo. pessoalmente eu ia fazer uma confusão dos infernos, ia falar tudo rápido, ia gaguejar e, o mais importante de tudo: corria o sério risco de ver a cara dele rindo da minha.

mas eu tinha categoria, pensa o que? eu tinha 15, mas eu tinha truques. eu gostava de Beatles e Raul Seixas, o que era nosso ponto em comum (de resto, ele gostava de Ramones. e ainda gosta, pobrezinho). o que que eu fiz? eu escrevi uma carta anônima usando trechos de letras dos Beatles (ora traduzidas, ora não) e do Raul. esperando, claro, que isso fosse ser decodificado do outro lado. eventualmente alguma coisa como "ai, que legal... ela fez um código...". eu não lembro bem quantas cartas foram (porra, aquilo dava um trabalho do cão! não era tudo que era letra dos Beatles que dava pra colocar ali...), mas acho que pelo menos duas. a primeira eu coloquei num envelope azul dentro do bolso do casaco dele. ele achou, leu, amassou e jogou pra trás, pela janela. a carta caiu num lugar sem acesso.

Anderson, se tu estiveres lendo isso, uma pergunta: cagão, né? encalhado, comedor compulsivo de fiapos de calça jeans, e tu te faz de malvadão com a cartinha só pra parecer o lone ranger? só tu mesmo, seu cuzão!

bom, voltando: a cena dele lendo, amassando e jogando fora foi uma coisa tão espalhafatosa que os guris perceberam o que era. um dos colegas, literalmente palhaço profissional, mas na época só amador (saudade, Dario!), deu jeito de ir até o tal lugar sem acesso e catou a carta. e, óbvio, leu em voz alta no meio da sala. alguns sacaram que tinha Raul no meio. os nerds (a Renata, eu acho, né?) beatlemaníacos perceberam os trechos deles também. só quem não se deu conta foi o cuzão do Anderson.

onde eu estava neste momento que não num buraco, indo em direção ao Japão? e rindo, fazendo parte do coro que repetia qualquer uhu, e aeeee!

eu nem sei como, finalmente, ele ficou sabendo que era eu.

minto. sei. num dia de aula de educação física, disciplina da qual eu era dispensada por causa do joelho ferrado, eu fui pro orfeão. e ele ficou na sala, enterrado em algum gibi, com um chapéu de velho na cabeça e os coturnos tamanho 45. no orfeão uma amiga sentou ao piano e começou a tocar Yesterday. a Andrezza. filha dum músico (só podia! pra gostar de Beatles naquela época e saber tocar piano com 15 anos, tinha que ter alguma coisa por aí). alguns poucos anos depois ela apareceu na playboy. não sei dela, mas se ela aproveitou bem a beleza, a inteligência e a cultura que tinha, deve estar bem em algum lugar por aí.

aí eu me emocionei e voltei pra sala e entrei e vi ele lá e sentei na frente dele e dei as real. o bruto (ô, seu porra! comé que eu sou tua amiga até hoje, hein?) escutou tudo enquanto olhava pro gibi (cagão). aí depois me deu as costas e saiu (aquele puto!).

depois de muitas confusões e uma galerinha do barulho, eles vão descobrir o valor da amizade

ops. não é sessão da tarde. depois de muitas confusões, eu desisti, porque não foi possível lutar contra aquela malvadeza toda. e aí ele continuou sendo meu amigo como se nada tivesse acontecido, relaxou e até protagonizou cenas dessas, de me levar pra sala de aula no colo por causa dum salto mal sucedido que acabou em morte. não, em joelho fudido, só isso.

yadda yadda yadda, somos amigos até hoje, yadda yadda yadda, ele continua gostando de Ramones, ele raspa o cabelo, ele usa terno salmão às vezes, ele constrói guitarras, ele toca guitarra numa banda de punk rock, ele é advogado e apesar de mais educado, ele continua um cuzão. a diferença é que agora ele sabe dirigir, cozinhar (e bem até!) e até sabe francês.

moral da história. eu sou ótima, né? mas como amiguinha. todo mundo acha maior legal porque eu posso falar de Opalas, de Beatles, de coisas nerds em geral, de filmes bizonhos, bizarros, de ficção científica ou tudo ao mesmo tempo, de cachorro, do problema da China. mas eu sou a Janeane Garofalo. porra. eu sou a amiga.

a eterna. a fiel. a preferida. a coisa mais querida. amiga. a amiga nerd. a amiga de óculos. a amiga ranzinza, sarcástica, que tropeça e derrama as coisas tudo, que é meio sincera ao ponto da grossura, que se ajoelha no chão pra puxar fiozinhos e o escambau, que xinga todo mundo. a amiga tatuada e de camiseta de banda e calça de veludo cotelê. e tênis. a amiga que no inverno dorme com um camisetão do Pateta.

e, o que é pior: a amiga que continua mandando cartinhas.

e depois o Anderson é que é o cuzão, né?

[ Penkala ] 02:18 ] 0 comentários

 
eu uso óculos




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