te
aviso qualquer coisa
“tá
tudo errado”, pensei eu, enquanto ficava ainda me culpando por ser
fraca, e por me deixar abalar por quem, na verdade, nem significa
porra nenhuma. e me culpando por me culpar, no fim das contas. por
ter pensado “o que diabos eu falei de errado?”.
mas
eu não falei porra nenhuma errada. ou pelo menos não é assim que
funciona. talvez o motivo pelo qual os homens continuem tendo esse
comportamento escroto e covarde de simplesmente sair de órbita sem
nem dar o prefixo seja culpa nossa. culpa nossa porque se a gente
engole um troço desses e não fala nada; se a gente não demonstra
que não, não tá tudo ok; se a gente age também como se nada
fosse, está dizendo, calada, que tudo bem, que isso é normal, que
não nos afeta. e não é que nos afete porque a gente acha que todos
os caras são os caras com quem a gente quer casar ter filhos
partilhar bens. o fato de uma pessoa nos tirar do nosso cantinho e
respondermos positivamente e aceitarmos a investida e jogarmos esse
jogo meio besta de flertagem boba nem sempre quer dizer que queremos
mais que uma (ou mais) saída(s) agradável(eis). mas não quer dizer
também que tanto faz como tanto fez. se a resposta é positiva, se a
conversa tá boa, se o jogo tá andando, simplesmente agir como se
nada tivesse acontecido é fazer uma pessoa de palhaça. é tratar
uma pessoa como se ela fosse qualquer lixo.
mas
por que agimos com indiferença em resposta a isso? é porque estamos
pouco nos fudendo? não. agimos com indiferença porque existe uma
“regra” tácita que todas as mulheres aprendem sabe lá de onde
que diz que é muito indigno perguntar claramente pra alguém que te
trata mal (ou como lixo, ou como qualquer ninguém) o motivo de estar
sendo maltratado. aparentemente, somos moldadas pra engolir sapos,
pra baixar a cabeça e aceitar desaforo, a ofensa gratuita, a
violência emocional e física, o tratamento que muitos chamariam de
passivo-agressivo. não, tu não recebeu um tapa, tu não foi
xingada, nem sequer teve embate concreto. tu apenas passou – sem
motivo – de a pessoa encantadora charmosa sensacional única mimosa
linda e seja lá quantos elogios vazios que um homem besta é capaz
de vomitar em cima de alguém pra preparar qualquer terreno pra
pessoa por quem passam na rua como se nunca tivessem te visto, pra
pessoa que se finge ser apenas mais uma numa lista qualquer de rede
social.
agimos
com indiferença por defesa, porque dizer que não gostou de ser
tratada assim é humilhante, porque dizer claramente que não é
qualquer pedaço de plástico pra ser usado ou não conforme a
necessidade é uma chance pra ser tratada ainda pior. agimos com
indiferença porque aprendemos, há alguns anos, que o comportamento
escroto e covarde de alguns homens não apenas é normal como deve
ser tolerado se quisermos ser levadas a sério como iguais, já que
estamos reivindicando igualdade.
em
bom português, sabe o que eu penso disso? foda-se essa merda toda.
chega de se culpar quando é tratada como palhaça, como brinquedo,
como qualquer pedaço de plástico. chega de achar que falou bobagem,
que “espantou” um cara, de ficar calada não dando aos escrotos e
covardes nem a chance de provarem 10% do que sentimos. eu me sinto
ofendida, me sinto um lixo, recebo isso como um chute na boca sem eu
nunca ter ofendido ou destratado ou chutado a boca da pessoa?, então
essa pessoa vai pelo menos saber que sim, ela acabou de ofender,
tratar como lixo ou chutar a boca de alguém. foda-se essa merda toda
e chega de silenciar pra que achem que somos muito senhoras de nós
mesmas quando na verdade isso é o mesmo que dizer: continuem fazendo
merda como meninos mimados que são que acham que qualquer mulher é
a mamãezinha de vocês: aguenta qualquer merda do principezinho
porque o principezinho é o rei.
“foda-se
essa merda toda”, eu disse, e resolvi não ficar quieta. e resolvi
também dar uma chance de a pessoa se explicar. afinal, todo mundo é
inocente até prova em contrário. foda-se essa merda toda e eu
perguntei: escuta, eu falei alguma coisa que te ofendeu? porque eu
estranhei o fato de mil conversinhas fiadas, mil combinações e mil
papos divertidos, um atrás do outro, pra depois o combinado ficar no
ar como se nada fosse e o combinante sumir como se nunca fosse. a
resposta veio meio dia depois, me tratando por uma das coisas que eu
tenho mais que razão de odiar que me tratem: querida. somente
argentinos podem me chamar assim, meu bom rapaz. argentinos, todos
muito educados, e todos muito prestativos, em sua preocupação
genuína com as pessoas que estão recebendo. do contrário, enfie
esse querida no bolso, porque eu não sou criança, nem idiota, nem
uma mulherzinha inútil. alguns homens diminuem as mulheres sem nem
se darem conta disso. quando nos tratam como bebês, como incapazes,
como fofurinhas mimosas queridinhas fulaninhas de talzinho. hey, HEY!
sem essa de não querida é que essa semana tá corrida mesmo. sem
essa de não querida não tem nada de errado é que eu tou
ocupado/com problemas. “logo mais eu entro na rede e conversamos”,
meu bom rapaz, é o mesmo que “i'll let you know”? é o mesmo que
“espera sentada que quando eu estiver precisando eu te chamo”?
é.
e
a prova em contrário veio a galope. nunca mais “entrou na rede”
ou o que quer que falem esses sujeitos que não tem colhões de dizer
que não estão a fim. e o que mais me irrita: quando eles é que
procuraram, quando eles é que vieram de papinho, quando eles é que
nos fizeram acreditar que o papo tava bacana e que existia algum
respeito entre as partes. e eu só tenho a lamentar o azar, que faz
com que quem realmente fica preocupado se te ofendeu, se te machucou,
é quem está inacessível.
eu
me culpo, sim. por não ter tomado antes a decisão de entrar com os
dois pés calçados nos coturnos no meio dos peitos dessa porra toda,
estabelecendo o simples limite: até agora, meu amigo, tu conheceu a
querida. a partir daqui, tu só vai falar com a bruxa mesmo. ME
OFENDO, SIM, QUANDO SOU TRATADA COMO QUALQUER PORCARIA. ISSO NÃO VAI
ME MATAR, PORQUE EU NÃO DEPENDO DE APROVAÇÃO DE HOMEM PRA ME
SENTIR GENTE. MAS EU NÃO NASCI PRA SER TRATADA COMO QUALQUER
PORCARIA POR QUALQUER MERDA QUE ME APARECE PELA FRENTE. quando algum
de vocês, que agem como escrotos e covardes, virar gente, me avisem
qualquer coisa. let me know, ok?
[ Penkala ] 11:49 ]
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