] segunda-feira, dezembro 17, 2012
 
deve existir um destino à espreita, esperando pra me interpelar na calçada pra perguntar as horas. e, enquanto tiro o celular da mochila pra responder, prepara o bote pra roubar meu coração. deve ser um destino besta, tão bobo quanto eu, e deve sofrer de alguma síndrome severa de deficiência de atenção (diferente do meu caso, aliás). e deve ter narcolepsia. deve me perder passando todos os dias, salta pra pedir as horas quando já passei. ou esquece que às sextas não pego aquele caminho. deve existir um destino à espreita de trás de uma árvore. entretido com um cachorro simpático (qual não é?). que não me vê passar, preocupada que estou em tirar logo as chaves do bolso pra entrar em casa e deixar escorrer a maquiagem do rosto. junto com o rímel impermeável que adorna o olhar que diz que estou realmente muito cansada de estar sozinha.

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] sábado, dezembro 15, 2012
 
não sumi. são só alguns 487 posts mandados pra rascunho. outros tantos apagados. trabalhando feito louca talvez pra não ter que pensar. mas eu volto. eu volto logo.

[ Penkala ] 02:14 ] 0 comentários

 
] quarta-feira, outubro 31, 2012
 
às vezes tenho a sensação de que não valho nada. às vezes, de que valho, mas ninguém se importa. às vezes eu sinto que posso fazer alguma diferença, mas a vida me diz que eu sou apenas mais uma boba ingênua que acha que é especial. às vezes eu só queria que alguém me ajudasse a carregar o peso do dia. que às vezes é de tristeza, às vezes é de cansaço, às vezes é de frustração, às vezes é de medo. e que é sempre de solidão.

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] sábado, outubro 13, 2012
 
depois de um dia longo, a noite fecha a porta atrás de mim e sou eu sozinha, sou eu por minha conta. e isso deveria não doer tanto. e eu tenho certeza, tive o suficiente, tive demais até pro que deveria desta vida. tenho certeza que já deu. mas eu tenho que continuar.
não quero desistir de mim mesma, embora já tenha desistido de muita coisa. deixei pra trás mais pedaços do que deveria, mais coisas do que aguentaria andar sem. não quero desistir de mim mesma porque todo mundo chora, eu sei, e eu vou chorar ainda mais. todo mundo se machuca, e eu vou me machucar ainda mais.
chega um dia em que todos os dias são o final triste de uma sexta-feira ruim. chega um dia em que tenho que dizer pra mim mesma pra só ter paciência e aguentar o dia. atravessar o dia como quem só pensa no que talvez venha depois. chegar do outro lado, apesar de tudo. eu aguentei tanto, eu aguentei firme, e aguentar mais parece simplesmente mais do que eu posso suportar. mas pra chegar do outro lado, eu preciso. aguentar.
quantas vezes eu me senti sozinha, mesmo não estando. e quantas vezes ainda me sinto, com razão? e quantas vezes ainda vou me sentir sozinha, e não vou poder largar tudo, simplesmente porque não vai ter ninguém que me segure quando eu cair. eu só acho que tive o suficiente. só acho que aguentei demais. e não demora, não vou mais suportar. todo mundo chora e todo mundo se machuca às vezes. eu estou cheia de chorar sempre. e estar sempre me machucando.

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] sexta-feira, outubro 12, 2012
 

te aviso qualquer coisa

tá tudo errado”, pensei eu, enquanto ficava ainda me culpando por ser fraca, e por me deixar abalar por quem, na verdade, nem significa porra nenhuma. e me culpando por me culpar, no fim das contas. por ter pensado “o que diabos eu falei de errado?”.
mas eu não falei porra nenhuma errada. ou pelo menos não é assim que funciona. talvez o motivo pelo qual os homens continuem tendo esse comportamento escroto e covarde de simplesmente sair de órbita sem nem dar o prefixo seja culpa nossa. culpa nossa porque se a gente engole um troço desses e não fala nada; se a gente não demonstra que não, não tá tudo ok; se a gente age também como se nada fosse, está dizendo, calada, que tudo bem, que isso é normal, que não nos afeta. e não é que nos afete porque a gente acha que todos os caras são os caras com quem a gente quer casar ter filhos partilhar bens. o fato de uma pessoa nos tirar do nosso cantinho e respondermos positivamente e aceitarmos a investida e jogarmos esse jogo meio besta de flertagem boba nem sempre quer dizer que queremos mais que uma (ou mais) saída(s) agradável(eis). mas não quer dizer também que tanto faz como tanto fez. se a resposta é positiva, se a conversa tá boa, se o jogo tá andando, simplesmente agir como se nada tivesse acontecido é fazer uma pessoa de palhaça. é tratar uma pessoa como se ela fosse qualquer lixo.
mas por que agimos com indiferença em resposta a isso? é porque estamos pouco nos fudendo? não. agimos com indiferença porque existe uma “regra” tácita que todas as mulheres aprendem sabe lá de onde que diz que é muito indigno perguntar claramente pra alguém que te trata mal (ou como lixo, ou como qualquer ninguém) o motivo de estar sendo maltratado. aparentemente, somos moldadas pra engolir sapos, pra baixar a cabeça e aceitar desaforo, a ofensa gratuita, a violência emocional e física, o tratamento que muitos chamariam de passivo-agressivo. não, tu não recebeu um tapa, tu não foi xingada, nem sequer teve embate concreto. tu apenas passou – sem motivo – de a pessoa encantadora charmosa sensacional única mimosa linda e seja lá quantos elogios vazios que um homem besta é capaz de vomitar em cima de alguém pra preparar qualquer terreno pra pessoa por quem passam na rua como se nunca tivessem te visto, pra pessoa que se finge ser apenas mais uma numa lista qualquer de rede social.
agimos com indiferença por defesa, porque dizer que não gostou de ser tratada assim é humilhante, porque dizer claramente que não é qualquer pedaço de plástico pra ser usado ou não conforme a necessidade é uma chance pra ser tratada ainda pior. agimos com indiferença porque aprendemos, há alguns anos, que o comportamento escroto e covarde de alguns homens não apenas é normal como deve ser tolerado se quisermos ser levadas a sério como iguais, já que estamos reivindicando igualdade.
em bom português, sabe o que eu penso disso? foda-se essa merda toda. chega de se culpar quando é tratada como palhaça, como brinquedo, como qualquer pedaço de plástico. chega de achar que falou bobagem, que “espantou” um cara, de ficar calada não dando aos escrotos e covardes nem a chance de provarem 10% do que sentimos. eu me sinto ofendida, me sinto um lixo, recebo isso como um chute na boca sem eu nunca ter ofendido ou destratado ou chutado a boca da pessoa?, então essa pessoa vai pelo menos saber que sim, ela acabou de ofender, tratar como lixo ou chutar a boca de alguém. foda-se essa merda toda e chega de silenciar pra que achem que somos muito senhoras de nós mesmas quando na verdade isso é o mesmo que dizer: continuem fazendo merda como meninos mimados que são que acham que qualquer mulher é a mamãezinha de vocês: aguenta qualquer merda do principezinho porque o principezinho é o rei.
foda-se essa merda toda”, eu disse, e resolvi não ficar quieta. e resolvi também dar uma chance de a pessoa se explicar. afinal, todo mundo é inocente até prova em contrário. foda-se essa merda toda e eu perguntei: escuta, eu falei alguma coisa que te ofendeu? porque eu estranhei o fato de mil conversinhas fiadas, mil combinações e mil papos divertidos, um atrás do outro, pra depois o combinado ficar no ar como se nada fosse e o combinante sumir como se nunca fosse. a resposta veio meio dia depois, me tratando por uma das coisas que eu tenho mais que razão de odiar que me tratem: querida. somente argentinos podem me chamar assim, meu bom rapaz. argentinos, todos muito educados, e todos muito prestativos, em sua preocupação genuína com as pessoas que estão recebendo. do contrário, enfie esse querida no bolso, porque eu não sou criança, nem idiota, nem uma mulherzinha inútil. alguns homens diminuem as mulheres sem nem se darem conta disso. quando nos tratam como bebês, como incapazes, como fofurinhas mimosas queridinhas fulaninhas de talzinho. hey, HEY! sem essa de não querida é que essa semana tá corrida mesmo. sem essa de não querida não tem nada de errado é que eu tou ocupado/com problemas. “logo mais eu entro na rede e conversamos”, meu bom rapaz, é o mesmo que “i'll let you know”? é o mesmo que “espera sentada que quando eu estiver precisando eu te chamo”?

é.

e a prova em contrário veio a galope. nunca mais “entrou na rede” ou o que quer que falem esses sujeitos que não tem colhões de dizer que não estão a fim. e o que mais me irrita: quando eles é que procuraram, quando eles é que vieram de papinho, quando eles é que nos fizeram acreditar que o papo tava bacana e que existia algum respeito entre as partes. e eu só tenho a lamentar o azar, que faz com que quem realmente fica preocupado se te ofendeu, se te machucou, é quem está inacessível.

eu me culpo, sim. por não ter tomado antes a decisão de entrar com os dois pés calçados nos coturnos no meio dos peitos dessa porra toda, estabelecendo o simples limite: até agora, meu amigo, tu conheceu a querida. a partir daqui, tu só vai falar com a bruxa mesmo. ME OFENDO, SIM, QUANDO SOU TRATADA COMO QUALQUER PORCARIA. ISSO NÃO VAI ME MATAR, PORQUE EU NÃO DEPENDO DE APROVAÇÃO DE HOMEM PRA ME SENTIR GENTE. MAS EU NÃO NASCI PRA SER TRATADA COMO QUALQUER PORCARIA POR QUALQUER MERDA QUE ME APARECE PELA FRENTE. quando algum de vocês, que agem como escrotos e covardes, virar gente, me avisem qualquer coisa. let me know, ok?

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] sexta-feira, outubro 05, 2012
 
é guerra?

eu me recuso a ter nojo de homem. cada vez que uma mulher diz algo parecido com "homem é tudo igual", eu me recuso a concordar. me recuso porque acho que isso generaliza comportamentos que não vejo em todos os homens que conheço. me recuso porque não vi meu pai ou meu avô fazendo coisas assim. me recuso porque isso me colocaria no desesperançoso lugar de admitir que eu nunca vou encontrar um sujeito que não repita pelo menos um desses comportamentos pra ser meu companheiro de uma vida.

mas me recuso ainda mais a fingir que os homens não estão, como gênero, dando motivos bem frequentes e ofensivamente demasiados pra que uma mulher fale isso. os homens são ótimos. como pais, avós, irmãos, colegas e, pra quem gosta de homem, companheiros e parceiros sexuais. homens são ótimos em coisas que só eles são ótimos. mas homens são péssimos em muitas, mas muitas coisas. e essas coisas ficam ainda mais numerosas e maiores quando se tem um sistema que as endossa, uma cultura que as permite, um organismo que propicia que essas coisas continuem sendo feitas. homens fazem coisas tão idiotas que me dá vergonha, às vezes, de dizer que gosto de homens.

e não, não livro meu pai. ou meu avô. ambos tremendamente humanos, éticos e generosos. e capazes de fazer, dizer e repetir comportamentos machistas. não comportamentos machistas como quando meu pai regulou minha saia um dia que ia a uma festa com um vestido acima do joelho quando tinha uns 13 anos. não comportamentos machistas como quando meu avô teve seus casinhos de guri fora do casamento. mas foram machistas, ainda em suas humanidades e éticas e generosidades.

mas a época deles era uma época em que as coisas eram diferentes. em que homossexuais apanhavam dos colegas e isso era coisa de se contar rindo. em que mulheres tratavam seus filhos homens com muita tolerância enquanto suas filhas eram criadas como verdadeiras guerreiras anônimas: as que lutam, se esfolam, defendem, mas morrem sem nenhuma honra na esfera da igualdade. minhas avós trabalharam e, muito pobres que foram, nunca se deram ao luxo de não batalhar por trazer o dinheiro suado pra botar comida na mesa. ainda assim, criaram seus filhos no sistema machista que permite que tantas injustiças sejam feitas até hoje em nome da superioridade dos direitos dos homens. meu avô tinha direito ao bife maior, como se não trabalhasse tanto quanto minha avó. meu avô abdicava desse direito, que lhe era concedido pela minha avó, pra que os filhos comessem melhor. admirava meu avô por isso, também. e fui a primeira a questionar o machismo da minha avó. ela, coitada, além de machista porque criada num sistema assim - nas freguesias quase medievais de um Portugal dos anos 30, 40 e 50 - era machista por acreditar mesmo que era inferior. trabalhou a vida toda. trabalhou até quase parir cada um dos 3 filhos. e depois voltou a trabalhar. ainda hoje, caduca aos 82 anos, tolera coisas do filho que não tolera das filhas.

[ é um texto longo. mas mais longa ainda é minha frustração de ver coisas acontecendo e ser chamada de louca. ou de ser tratada como objeto inanimado ]

hoje, o machismo do bife maior pouco existe. assim como pais já não regulam as saias das Ana Paulas de 13 anos. quando um homossexual apanha, o jornal não tem vergonha de noticiar. quando um marido tem casinhos fora do casamento, isso é tratado na esfera privada por uma mulher que cobra respeito. e hoje, o machismo está bem pior que era há alguns anos.

longe de mim achar que décadas de luta feminista não conquistaram nada. longe de mim achar que era melhor ser mulher nos anos 50. longe de mim achar que os homens dos anos 30 eram menos cruéis conosco. estou falando de algo bem diferente. estou falando que o machismo hoje é ainda pior que no passado. em primeiro lugar, porque dos homens que fazem coisas machistas, poucos admitem que é machismo por vergonha do título. em segundo lugar, porque o machismo se travestiu de igualdade em muitas circunstâncias, mas especialmente na esfera das relações interpessoais.

homens héteros usando maquiagem, homens héteros assumindo seu feminismo, homens héteros tendo comportamentos de tolerância e compreensão de diferenças e ainda assim de aceitação da igualdade de direitos devida às mulheres...

e ainda assim homens que consideram as mulheres como objetos.

não estou falando (só) da objetificação da mulher como quando nos sentimos aviltadas pelas propagandas de cerveja. essa objetificação que usa o termo clássico e que é bem mais complexa do que muitos costumam entender e bem mais simples de compreender do que muitos costumam pensar que é. estou falando de DESUMANIZAÇÃO.

é de se esperar que eu faça aqui um texto filosófico e social, como é do meu feitio acadêmico, não? pois não vou. vou escrever o que qualquer mulher sente com a covardia, o desrespeito, a falta de empatia dos homens. e eu vou falar de coisas que muitas mulheres sentem na carne todos os dias. e não é de apanhar, e não é de ser estuprada, e não é de ganhar menos no mesmo cargo que homens, como muitos acham que é (só) o que deve ser chamado de machismo. eu vou falar sobre covardia, sobre desrespeito. e sobre como é fácil demonstrar com exemplos reais o machismo subcutâneo que aflora nas relações interpessoais.

a maioria dos homens ainda hoje perpetua essa covardia, por exemplo, nas relações afetivas que vive. até um certo momento são homens até muito engajados, alguns dos quais agindo, na teoria, como verdadeiros exemplares de um feminismo masculino que só demonstra que não, nem todos os homens são iguais. é do gênero a dificuldade de empatia. mas é da evolução da humanidade a obrigação de superar defeitos de gênero. especialmente os defeitos que não apenas são levados ao extremo, como nos casos de violência, mas que criam no comportamento dos homens um padrão perigoso pras sociedades. mas até hoje, o que eu estou chamando de padrão perigoso ficou na conta do "radicalismo feminista", do "mimimi de recalcada" e do "caso isolado de foro íntimo/doméstico". quando é um padrão tão alastrado pelos comportamentos masculinos ainda hoje, se nota que a covardia ganha denominações as mais variadas pras quais a maioria dos homens tem uma desculpa pronta e esfarrapada. simplesmente ir comprar cigarro e nunca mais voltar é um desses exemplos de covardia. por que? porque muitos homens ainda não conseguem encarar as consequências de romper um relacionamento com uma mulher. primeiro, porque são umas crianças crescidas, sem preparo pra vida real. segundo porque não tem coragem de assumir seus atos. a maioria dos homens não assume o fim, não olha pra mulher no mesmo patamar e assume que fez merda, que traiu, que deixou de gostar, que não quer mais continuar. a maioria espera a mulher passar dias, meses ou anos se sentindo uma merda. espera ela acabar antes por falta de opções. mantém o relacionamento, mas nos bastidores faz de tudo pra que ela queira acabar. tem outros que simplesmente dão as costas e não dão satisfação. em todos esses casos, nos deixam como as loucas, as desequilibradas, as culpadas. enquanto romper um relacionamento honestamente geraria sofrimento pra ambos - o que os colocaria em pé de igualdade com a mulher -, ainda que a outra pessoa fosse sofrer mais por não estar querendo romper; dar as costas, ir embora ou ir minando um relacionamento até a mulher tomar uma atitude faz com que apenas a mulher sofra. ele, em geral, a essas alturas, já está em outra. e o pior não é sofrer essas coisas e passar meses tentando se recuperar de um rompimento traumático, humilhante e psicológica e emocionalmente violento. pior é ouvir outro homem dizendo que "é assim que as coisas são". a falta de empatia característica do gênero, nesses casos, chega ao ponto alto quando dizemos, já no último esforço, um "queria ver se fosse contigo!". neste caso, se colocar no lugar hipotético de alguém que sofre isso na pele é, ainda assim, um exercício de empatia. "se fosse comigo, eu não ia dar a mínima".

sair andando como se NADA tivesse acontecido é exatamente a mesma coisa que dizer que a outra pessoa E MERDA são a mesma coisa.

quando um homem diz que deixa 4 ou 5 mulheres de molho, na geladeira, na manga, mesmo que esteja "trovando uma", ele não está ferindo os sentimentos dessa a quem ele "trova". talvez nem os sentimentos das outras 3 ou 4 (ele VAI ferir, mas isso depois). mas ele está agindo dentro do mesmo sistema de pensamento que faz com que um homem mate uma ex-namorada porque "ela não pode ser de mais ninguém". exagero meu? não. porque o último caso é referendado, é legitimado, perpetuado pela ideia de que mulheres não são gente, não são seres humanos, não sentem e nem pensam como seres humanos que são. a maioria dos homens que acha muita graça e se ri dessa peculiaridade masculina de manter umas em banho maria pra uma fominha noturna está agindo como se a mulher fosse qualquer objeto: sem sentimentos, sem capacidade intelectual. agem como se homens e mulheres fossem de times opostos. de facções inimigas. e inimigos não têm sentimentos, não sentem dor, não têm família, aspirações profissionais, história de vida, nervos. é essa a origem da dificuldade de empatia do gênero. mas na origem, o homem era macaco também. hoje, a ciência nos levou ao espaço. mesmo com essas mentes pouco evoluídas de falsos civilizados. ainda se vê homens falando das namoradas como se elas fossem objetos inanimados, ainda se vê homens agindo como se o que eles fizessem não fosse ferir alguém, ofender, humilhar. a natureza já trata de nos oprimir com os imperativos biológicos do tempo. somos menos desejáveis quando mais velhas. mas quando o homem cravou a estaca da superação da natureza, inclusive subvertendo algumas tradicionais leis biológicas em nome da civilização e da civilidade, esqueceu que se éramos menos desejáveis quando envelhecíamos, era porque já não éramos mais férteis - e morríamos cedo porque nossa expectativa de vida era de 35, 40 anos. ainda hoje, mulheres são humilhadas por seus companheiros porque são preteridas por outras, mais jovens, e sentem ou enxergam claramente o motivo da troca. ainda que o imperativo da fertilidade e multiplicação dos gens não esteja em questão. se abandonássemos nossos companheiros depois da primeira broxada, como eles iriam sentir isso na pele? doeria. e quando um companheiro nosso sente dor, é um igual sentindo dor. e se abandonássemos os homens que, com 30 e poucos, ainda não ocupam um lugar de destaque na comunidade/sociedade, ainda que tivessem capacidade e oportunidades pra isso? e se abandonássemos os que não são ricos? menos mulheres fazem isso do que os homens gostam de acreditar e do que as piadas e propagandas em redes sociais propagam. muito menos. mas podem crer que essas, que fazem isso, não são feministas.

mas o que ainda não consigo entender, por mais que faça esforço com este meu cérebro de quem atingiu aos 32 um nível de doutoramento sem dever NADA a ninguém, é por que, com toda a liberdade sexual que se tem na atualidade, com a independência que se conquistou - que as mulheres conquistaram na base de muita luta e que beneficiam também aos homens - ainda existem homens que fingem que gostam de uma mulher pra conseguir alguma coisa com ela?! o que há de errado em ser honesto e dizer que não quer nada mais que sexo? o que há de errado em ter sexo com alguém e tratar essa pessoa, antes e depois do sexo, como igual, com respeito, com dignidade? o que há de errado em tratar alguém com respeito e cortesia independente de ainda querer sexo com esta pessoa? o que há de errado em ao menos assumir que se deixou de querer, que se mudou de ideia? ou em ser honesto sobre o que se quer e o que não se quer?

alguns podem - e de fato o fazem - supor que quando dizem isso, as mulheres fogem. bom, se eles não querem mesmo um relacionamento, se não estão apaixonados, se apenas estão atraídos fisicamente por alguém, a mulher fugir é sinal de que ela não quer só sexo. e isso deveria estar ok, pra um sujeito que só quer sexo. mas a maioria dos homens fala tudo o que pode pra fazer a mulher se sentir o máximo mesmo que isso seja só da boca pra fora. em sua covardia de assumir o que realmente acham ou querem, doa a quem doer, eles preferem mentir. em sua infinita dificuldade de empatia pra entender que se ela não quer só sexo não rola pra nenhum dos dois, ele acredita que fala o que a mulher quer ouvir (adoram dizer "mas as mulheres QUEREM ouvir isso". sim, queremos. se for verdade) em seu introjetado machismo de achar que mentir pra uma mulher em ordem de obter sexo e apenas sexo não é ofensivo, porque afinal mentir pra uma COISA não é o mesmo que mentir pra uma pessoa que tem sentimentos, eles fazem a mesma merda que qualquer homem que, em uma situação limite, estupra a menina que resolveu desistir do sexo. ainda que a mulher não queira mais do que um envolvimento físico que pode, ou não, se repetir algumas outras vezes, a maioria das mulheres trata o homem com o mesmo respeito com que trata qualquer um. a maioria dos homens, no entanto, parte do princípio de que elas vão pegar no pé.

o que faz com que você, rapaz muito pós-moderno e esclarecido, ache que é normal fingir que nada aconteceu e simplesmente sumir quando dias antes combinou algo com uma moça muito pós-moderna e esclarecida e só faltou colocar a moça num pedestal? o que faz com que você, homem muito amigo e já previamente resguardado de que a mulher não queria nada além de umas ocasiões pra suprir a carência física que todos os seres humanos têm, ache que tratando a "amiga" como se ela fosse descartável ela não ia se sentir assim mesmo, um ser humano lixo? por que tudo o que envolve sexo, com a maioria dos homens, têm que ser um jogo de poder de um ser humano sobre um objeto sem sentimentos capaz de suportar as piores faltas de respeito? o que faz com que vocês se ofendam tanto, maioria dos homens, quando uma mulher toma a iniciativa ou diz, claramente, que quer? é perderem a possibilidade de fingir pra vocês mesmos que vocês têm poder sobre as mulheres como homens têm poder sobre as árvores? ou é ver, com um susto grande, que mulheres pensam e sentem como vocês porque demonstram necessidades e estabelecem regras onde em vez de um beneficiado (vocês), ambos são beneficiados? confunde vocês quando, em vez de aceitar o quando e como vocês querem, as mulheres oferecem uma opção que fique melhor pros dois? porque se nos considerassem iguais a vocês, não confundiria. confunde e ofende porque quando isso acontece, a mulher demonstra que não é apenas um brinquedo que vocês usam quando sentem vontade e que deixam num canto quando não querem mais ou quando estão brincando de outra coisa. confunde e ofende porque sexo entre iguais ofende os machistas. os machistas curtem mesmo mentir pra conseguir sexo, forçar pra conseguir sexo ou conseguir sexo quando querem, como querem e com quem querem ainda que se achem muito não-machistas porque acham estupro um horror. machistas são assim, meninos mimados que querem o que querem, quando querem, como querem, ainda que o prejuízo ou a maior parte do ônus fique com o outro.

pois temos sentimentos. necessidades. e rotinas. não é AGORA. não é QUANDO VOCÊS QUEREM. e nem vamos ficar esperando enquanto vocês não querem. "os homens não gostam quando perdem o poder sobre a situação." não gostam porque isso os coloca diante da possibilidade real de ter que admitir que faz parte de considerar que as mulheres têm os mesmos direitos o admitir que elas são seres humanos jogando no mesmo time que eles. diante da possibilidade real e enfática de que entre iguais não existe jogo de poder. de que seres humanos que somos, todos procuramos exatamente as mesmas coisas. e quando os desejos e necessidades de uns são mais importantes que os desejos e necessidades de outros, isso não é igualdade. desculpem, homens machistas que ainda não sabiam que eram machistas: mulheres sofrem. não é por frescura, nem por TPM, nem por sermos frágeis ou sensíveis demais. é porque somos humanas. se o sofrimento (físico) que vocês não demonstram e nós, sim, for o exemplo de superioridade de vocês, então voltem a falar conosco sobre isso quando vocês passarem por partos com extrema dor e continuarem vivendo, trabalhando, e engravidando por escolha. e enquanto o sofrimento do homem engolido em seco for ovacionado como coragem e nossas dores expostas forem vistas como fraqueza moral, o machismo vai continuar fazendo homens e mulheres diferentes, enquanto tudo o que queríamos era oferecer apoio quando são vocês que saem machucados.

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] segunda-feira, outubro 01, 2012
 
quando se sente que não se tem o direito de entristecer com o fato de não ser especial a ponto de ser uma prioridade, em qualquer circunstância, se vê que a solidão é um tipo de coisa que esvazia a gente de várias coisas. quando se pede desculpa por esperar, quando se sente menos importante que qualquer coisa, quando se sente um personagem, quando se sente como se estivesse incomodando. nada pode ser mais triste que se convencer que não merece ser a pessoa mais importante. ou talvez uma coisa seja, sim, mais triste que isso. se sentir culpado quando se acha que tem esse direito.

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] domingo, setembro 23, 2012
 
entre o que não posso confessar e o que já foi dito, vive um certo pânico de quem não compreende bem a vida na forma que ela se apresenta. entre o que não posso confessar e o que nunca neguei nem nunca vou negar, se esconde um monte de fingimentos de eu sei que é isso e nada vai mudar as coisas como elas são (só que não). entre o que eu não posso confessar e o que eu fiz questão de deixar bem claro está uma saudade esquisita de quem tenta se convencer de que consegue segurar a verdade que a vida impôs e que não tem como ser revertida. entre o que todo mundo já sabe e as minhas grandes esperanças de que ainda exista algo onde não procuramos está uma criatura boba que vive entre o que há de verdadeiro e incondicional e o que existe em todo ser humano desprovido das grandiosidades búdicas, que é essa idiotice de que existe algo que é maior que isso tudo e que vai prevalecer.

desculpa, mundo. desculpa, eu mesma. mas meu espírito ainda não conseguiu evoluir.

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] segunda-feira, setembro 10, 2012
 
engraçado como a gente é capaz de ser feliz pelos outros e ainda assim carregar um vazio dentro de si que não consegue preencher nunca. ser feliz pela felicidade de quem eu quero feliz e ao mesmo tempo sentir que o tornado da vida me faz ser engolida cada dia mais pelo buraco negro que vem me engolindo aos poucos. não é culpa desse sorriso, que se afasta cada dia mais do meu alcance, que meu vazio esteja cada dia maior. assim como esse sorriso não preenche o nada que simplesmente tomou conta de cada núcleo das minhas células. cada vez que acordo penso que preciso sobreviver ao dia, e que se sobrevivi ao dia, preciso sobreviver à noite. e se me machuca que o universo tenha nos aproximado tanto e ainda assim colocado um abismo entre nós, saber que em algum lugar alguém ainda carrega algumas das melhores coisas de mim me faz sentir obrigada a superar as 24 horas.

não tem um dia em que não pense em colocar um fim nesse ciclo de superações. nem um dia em que não tenha medo que esse vazio, esse buraco negro, um dia tome conta de tudo, ainda que eu esteja lutando. a depressão é injusta, meu grande amor. ela te vê ser feliz e entra em desespero. ela me convence todos os dias de que não sou digna de viver, ainda que eu realize todos os dias o milagre da minha vida. ela me dá a força dos meus golpes e, quando estou mais vulnerável, olha bem nos meus olhos e diz: te atreves a insistir neste mundo? ela me deixa falando horas comigo mesma, e me ouve dizendo "de que vale a vida?" e respondendo, rápido, pra tentar não entrar em pânico, que "tenho saúde, tenho família, tenho meu trabalho, que é isso que vale", e então, depois do meu silêncio, ela finalmente se intromete. e pergunta: "de que vales tu?". e economiza minha resposta, dizendo ela mesma: "nada".

só eu posso preencher esse vazio. por mais que meu desespero imagine a solução mágica, só eu posso preencher esse vazio. mas, embora eu tenha medo de ser engolida finalmente por isso, e meu medo seja algo como mil agulhadas em todo o meu corpo o dia todo, não depende de querer. não depende de ninguém e de nenhum querer. e é quando eu compreendo isso que eu fico mais covarde ainda diante de tudo. porque só posso enfrentar o buraco negro sozinha, mas ainda assim, não depende de força, nem de querer. e nem da coragem que tiro todos os dias nem sei de onde pra atravessar mais 24 horas. é por isso que é tão injusto.

mas hoje, no sorriso que eu não vi, mas sei que estava aí, eu acho que compreendi que essa entropia, que bagunça a vida da gente de tempos em tempos, e que numa de suas brincadeiras infantis nos colocou no mesmo caminho, talvez não tenha sido irresponsável ao te colocar tão próximo de mim e ao mesmo tempo nos separar com um abismo. pensei que eu talvez tivesse alguma coisa a te ensinar. e eu acho que é justamente o contrário.

[ Penkala ] 02:19 ] 0 comentários

 
] sábado, setembro 01, 2012
 
hoje eu senti saudade. não que não sinta todos os dias. mas hoje senti ainda mais. porque quando tudo é medido por aquilo que não nos une, é como se a gente ficasse esperando por um avião que nunca vai botar os pés no chão.

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] sexta-feira, agosto 31, 2012
 
hey kiddo, say HELLO to Mountain View!

HELLO TO MOUNTAIN VIEW!

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] segunda-feira, agosto 27, 2012
 

the night we met I knew I needed you so
and if I ever had the chance I'd never let you go

às vezes eu penso nessa música... e só consigo cantar até aí

[ Penkala ] 01:41 ] 0 comentários

 
] sábado, agosto 18, 2012
 
poeira de ouro

quando rondei essa nave, e as janelas estavam vedadas por uma camada espessa de poeira, não sabia que era meu universo paralelo, mistura de passado e presente dentro de um só espaço. e criei coragem de levar a mão até o vidro e com um movimento em meia lua da direita pra esquerda retirar aquilo que me impedia de enxergar dentro daquele mundo. e lá dentro, iluminada pelo sol que entrava por alguma fenda no tempo, eu via a vida. que um dia seria, que acabou de vir a ser. um flash do meu universo paralelo desempenhava na minha frente uma peça de teatro com nexo apenas pra dois. não senti dor mais destruidora em toda a minha vida, a não ser uma única vez antes. limpei mais o vidro, como se ainda existisse alguma camada de poeira que, retirada, me colocasse dentro daquele salão. e nesse salão, eu me enxerguei através de outros olhos. olhos que nunca pensei que me observassem com tanta precisão, interesse. com tanto cuidado. uma precisão científica de observar os movimentos que desejo esconder. os movimentos que revelam aquilo que eu sinto. nunca soube antes que meus olhos brilhavam tanto. e talvez eles realmente nunca tivessem brilhado. é engraçado enxergar-se a si mesmo de pé, de preto, viva, pelos olhos de outra pessoa. ainda assim, projetada no tempo como um holograma. nunca me vi do lado de fora de mim mesma. não pelos olhos de uma criança insuportavelmente viva dentro de alguém, como se tivesse acabado de explodir uma bexiga cheia d´água nas costas de um desavisado. nessa vitrine do meu universo paralelo, aponta a insuportavelmente viva criança, eu estou sorrindo e arregalando os olhos. eu abro bem a alma que existe dentro deles com a surpresa que me toma de assalto. só me enxerguei fora de mim mesma assim uma vez pelos olhos de outra pessoa. engraçado. esses olhos olharam pros meus com essa mesma expressão de surpresa diante das coisas, essa mesma expressão de total exposição do que eu tenho dentro de mim. de estupefação. mas pros seus olhos embaçados, eu era o demônio. era a primeira vez que eu sentia essa dor destruidora. baixei a cabeça, olhei pras camadas de pó na mão. quando senti pela primeira vez essa dor, foi realmente o início da minha destruição. eu não era o demônio. meus olhos são apenas espelhados, e refletem o mundo que se desdobra em minha frente. hoje, sentindo essa dor de novo, vejo que ela me reconstrói. e os olhos vivos que brilham quando abro bem minhas pálpebras diante da surpresa do mundo, refletem agora esse insuportavelmente vivo menino. que para diante de mim, muito sério nos tênis brancos e meias pretas, e então sorri. num flash que me revela meu universo paralelo, toda uma vida de lembranças cabe nesse olhar. se eu sou essa criatura mítica dum espaço e tempo que talvez nunca existissem, é também porque esses olhos me enxergam. e se toda uma vida de lembranças cabe aqui, é porque guardo elas há todos os anos em que caberão o sempre. se me dói tanto quando estou sendo reconstruída, é porque vejo valor diante de mim. um valor que por mais que arregale os olhos, jamais vai caber na minha surpresa. como se na trama das roupas tivesse pó de ouro.

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] quarta-feira, agosto 08, 2012
 
leio no twitter uma frase retuitada que diz assim: "Mulheres de verdade abrem sorrisos, não as pernas". se eu soubesse por onde começar a falar sobre isso, diria que fico realmente muito chocada com a) uso obtuso de frases feitas por meninas não feitas que se acham grandes conhecedoras da vida; b) a estranha forma que mulheres têm de se auto-degradar e às outras sem a mínima noção do que fazem; c) o fato de que eu sempre tive a nítida impressão de que abrir sorrisos e abrir pernas eram duas coisas diferentes e não excludentes; e d) essa coisa tão linda que é a hipocrisia alheia, de gente que sequer se deu conta do quanto é necessário e bom ora não abrir sorrisos, ora abrir as pernas.

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] sexta-feira, agosto 03, 2012
 
será que algum dia essa tristeza vai passar? será que vou um dia simplesmente parar de sentir esse vazio, essa dor que nunca passa? será que sou fraca demais, que isso é normal, que isso tem fim? será que um dia vai se passar mais de uma semana sem que aconteça uma noite apenas? aquela noite em que ou não estou exausta o suficiente, ou que não estou sozinha, e que num momento de silêncio, entre meu cérebro pensando aos turbilhões e a calmaria que antecede o sono, eu começo a pensar. aquele momento em que o pensamento, que eu evitei o dia todo, que adiei, que enganei com mil coisas pra fazer ou com o cansaço, aproveita uma fraqueza, uma fresta, e me assalta.

e quando o pensamento me assalta, quando eu não consigo lutar contra como venho lutando sempre, eu tento evitar, mas eu choro. porque não tem jeito. e aí choro até dormir cansada. cansada de perguntar se um dia isso vai passar, se existe isso de um dia passar, se sou eu que sou fraca demais, se eu não deveria era estar rindo de tudo e não dando a mínima. eu estou realmente cansada disso. de em vez de estar triste, ser triste. de fechar os olhos e pensar que melhor seria subir, subir, subir até as pernas pedirem pra parar, e então tropeçar no céu como se fosse livre, mergulhar no ar como se fosse pássaro, e me acabar no chão como se fosse sólida. e não agonizar mais no passeio público, e atrapalhar o sábado de quem tem mais coragem de continuar que eu.

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] terça-feira, julho 24, 2012
 
NÓ DE MARINHEIRO
minha própria teoria das cordas

a gente só sabe que ama alguém incondicionalmente quando a dor do outro é maior que a nossa dor. quando o amor não muda quando tudo muda. quando tu recua, no teu caminho de tentar ser feliz, diante da verdade da dor do outro. e tudo o que tu deseja é estar ali. tudo o que tu deseja é que seja feliz. tudo o que tu lamenta é não poder ter estado quando a dor chegou.

a gente só sabe que ama alguém incondicionalmente quando dói saber que doeu tanto. e alivia saber que aliviou um tanto o simples fato de tu estender a mão. estender a mão simplesmente, porque amo o homem que tem o peito de onde sai o braço de onde se estende uma mão que já esteve diante do que acreditava ser a solução. porque amo o humano, porque sinto dor pela enormidade da dor que é não poder ser humano. simplesmente existir.

a gente só sabe que ama alguém incondicionalmente quando finalmente entende que o enxadrismo do destino cruza linhas com o propósito que lhe convém. e não importa se é o que esperamos. o amor incondicional não é esperado. e ser humano nenhum está preparado pra quando esse dia chega.

eu só sei que amo incondicionalmente quando entendo que minha lágrima de pesar, de lamento, é apenas uma gota dentre as tantas outras lágrimas de felicidade. não que a felicidade não doa mais que qualquer outro sentimento. ela dói. quando é verdadeira, ela dói. eu só sei que amo incondicionalmente quando penso e digo, honestamente, que estou aqui. não mudo um milímetro do que sinto. e que vou lutar, ainda, com a mão firme no mesmo manche. tenho treinamento pro resgate de quem quiser se enrolar no conforto de núvens, se embebedar com a água profunda, apagar sua própria luz com o pó mágico da analgesia. já sobrevivi a essas soluções. já saí inteira de muitas tormentas, e do furacão que se aproxima eu não vou ter medo. eu estou aqui e sempre vou estar. porque o que existe, não deixa de ser o que é. apenas se transforma. se na corda invisível ou na cadeia humana, não importa. marinheiros sabem de nós.

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] segunda-feira, julho 23, 2012
 
hoje quis escrever uma poesia pra ti. mas adivinha? não sei escrever poesia. fiquei aqui, impotente com esse algo que eu nem sei se ia conseguir dizer. mas pelo menos, se fosse poesia, seria menos real. hoje quis escrever uma poesia pra ti. mas adivinha? me sinto ridícula.

hoje quis te ver em verde, ou talvez em vermelho como nos dias de semana no porão onde misturas as fórmulas mágicas, mas estavas em branco. e queria perguntar assim de soco, como aqueles que já ensaiei brincando pra te ver treinar os reflexos. eu queria perguntar de soco, queria aliviar a poesia impotente que me dizia pra sofrer com tanto mistério, e tantos monstros soltos dentro do coração. mas não te vi. tinha medo, mas ia perguntar. tinha medo de saber, me escondi na poesia. se sofre bonito na poesia. a realidade é bem mais estatutária. mas só sei ser Kafka. não consigo ser Pessoa. mas adivinha? não estavas.

hoje quis que tudo fosse mais fácil, mas nunca foi. tudo começou com uma luta, e como uma luta vai continuar. hoje quis não saber. hoje quis ignorar. hoje quis não alimentar criaturas, mas adivinha? minha mente é fértil. dentro de mim, o que não sei, o que cogito, o que desconfio é tão maior, tão mais duro, tão mais feio do que talvez a realidade me reserve...

hoje quis te dizer tantas coisas, hoje quis ter força pra desistir, hoje quis ter a coragem de esquecer. mas assim como sou incompetente pras poesias, sou fraca pra admitir que a realidade vai me machucar de novo. ou que não. hoje quis escrever uma poesia, hoje quis o soco, hoje quis o mais fácil. hoje queria entender. hoje queria sentir saudade sem medo. hoje queria ter onde enfiar o sentimento. mas adivinha? me sinto ridícula. porque tudo o que eu queria era saber escrever pra ti uma poesia.

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] sábado, julho 21, 2012
 
oh captain, my captain, será que estou de novo preferindo a fantasia que me faz sofrer como num livro inglês do século XIX à realidade? parece que o mundo todo caiu em cima dos meus ombros. oh captain, my captain, eu talvez sempre soubesse. talvez eu compreenda mais do que qualquer marinheiro possa compreender. eu não sou quebrável e de porcelana. sou um desses estivadores no porto, e um desses marinheiros no convés. qualquer revés que a tempestade cause, só vou ficar indecisa entre resgatar o homem ao mar ou segurar o manche desta nau. talvez eu faça até os dois. e talvez resgate o homem do mar porque prefiro sua verdade por perto a nunca mais partilhar o mundo com ele, um espectro fantasioso como o herói de um romance vitoriano. será que somos tão da mesma matéria, captain, my captain?

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] sexta-feira, julho 20, 2012
 
Vivaldi. Verão, último movimento


às vezes espero na janela, desse porto londrino que em dias como hoje até parece uma cidade do Brasil, com sol e um leve calor. espero pra ver se lá no longe enxergo algum barco. e do barco, espero notícias que das tormentas e do vento gelado desconheço todas. mas quem sabe o que se passa na mente desses estivadores, que descem apressados, com sacos sobre os ombros, e me dizem sempre que de notícias não trazem nada. perguntam: tu és a moça das cartas na garrafa? eu respondo que quero apenas saber se das tormentas em alto mar sobrou alguma coisa. eles dizem: não se sabe. nunca se sabe.

quem entende o coração dos homens que derivam no mundo e acostumam com as tempestades e, como transatlânticos vitorianos querem afundar lá, no mar mesmo? quem entende o coração dos marinheiros que escolhem a tormenta. quem entende?

não entendo. nem do coração dos homens do mar, nem dos seus desígnios, nem talvez de sua predileção pela vida solitária da tormenta. só entendo dos olhares que ficam. do meu, que de tempos em tempos precisa limpar o embaçado do óculos e tornar a fazer foco, e que procura ao longe algum navio que traga notícias. e do capitão da tormenta, que vi de partida. tem terra no coração do capitão. eu sei que tem. e tem água salgada, eu sei que tem. enquanto há terra, não há água salgada. enquanto não há terra, transborda a água salgada. mas adianta dizer que eu sei é dos olhos do capitão? adianta, se o capitão carrega também a tormenta? adiantaria dizer que eu também carrego dessa mesma tormenta dentro de mim? adianta dizer que mergulharia e pegaria o capitão pela gola da capa, no fundo do mar, porque por tantas tormentas eu já passei que minhas mãos estão cortadas de tentar segurar meu próprio manche? talvez não. o que eu entendo, o pouco que compreendo, é que há um menino que tem medo dentro desse coração de tempestades de Vivaldi. e dentro desse menino, a saudade que eu deixei. o que entendo, o pouco, é o que vi. e o que vi, no meio de tantas tempestades cruéis às quais sobrevivi, é o que teimo em acreditar. eu vi medo onde dizia decisão. eu vi confusão onde dizia certeza. eu vi alguém bom onde dizia pra eu sair de perto. eu vi amor onde dizia ódio. eu acredito no que meu coração diz. e ele sempre me diz que sou capaz de mergulhar profundidades, de carregar o corpo de um homem adulto nas costas, de sustentar meu próprio corpo cansado enquanto a tempestade não cansa de castigar. só não sei por que me subestimam. por que acreditam que eu não seria capaz de compreender a natureza dos homens? eu compreendo. até demais. o que atormenta o tempestivo capitão? o ódio que tenta domar? ou algo que ele quer esconder de si mesmo, que tem medo de revelar por achar que isso faz dele menos capitão? talvez eu saiba, e não quero acreditar porque sou humana demais pra não achar que isso só pode ser brincadeira do destino.

no porto já tentei fazer exercícios de futurologia, de adivinhar quais notícias o próximo navio vem trazendo. desisto de todos. não sei, de fato, o que há de acontecer amanhã. se vou me afogar nessa água salgada nadando horas e horas buscando aquilo que eu sei que está lá. se vou escrever até meus dedos fazerem sangue. se vou desistir de tudo e atravessar o Canal da Mancha à nado. enquanto olho na janela, em direção ao porto, penso que o destino é cruel. porque eu sei que meu coração não está errado naquilo que persegue. e que eu devo esperar que as tormentas passem pra ver tudo de forma mais clara. por que eu teria ganho tanta força pra aguentar essas tempestades, e um coração teimoso, e uma coragem de mergulhar no mar gelado e arrancar dele o que o vortex engoliu? não sei do futuro, e, como boa jornalista, não acredito nos boatos dos marinheiros sujos que dizem por aí que há um monstro à solta no porto. meus próprios monstros eu mato todos os dias. só acredito que ainda não é hora de largar o manche. já passei por tempestades piores, já venci tormentas com o corpo em frangalhos, a mente ausente, o coração dilacerado. e venci. não acredito em signos, acredito em arianos. nasci no dia em que o Titanic afundou. mas não tenho medo de nenhum duro e frio iceberg. contratei bons músicos. se alguém quiser me achar, estou com as duas mãos no manche. mas pronta pra me jogar ao mar. e voltar de lá com um homem desacordado e com a pele azul. mas vivo. nem que eu tenha que bombear o coração dele com as minhas próprias mãos. enquanto os músicos tocam o último movimento de Verão, do Vivaldi.

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] quarta-feira, julho 18, 2012
 
a tristeza é uma coisa que chega em golfadas. a gente chora a perda, chora o absurdo da situação, depois vai ali, faz um café. e depois, quando olha uma coisa qualquer, um jorro de tristeza nos derruba outra vez.  há quem diga que a perda de um animal significa menos que a perda de uma pessoa. bom, depende totalmente da relação que se tem com cada um dos seres. e com a compreensão que tu tem do que é um animal. eu só me acostumo mais com a perda de um cachorro porque sei que eles têm muito menos tempo conosco que os humanos. mas mesmo assim, é uma perda muito dolorida.
perdemos ontem uma companheirinha. a Whisky véia, super séria, rabugenta. tinha só 5 aninhos a magrelinha. o THX perdeu uma irmã e amiga de todas as horas, nós perdemos uma companheirinha a quem criamos com todo o amor e carinho. e que nos afogava de beijo quando estava com saudade. e eu não consigo segurar a minha tristeza quando lembro dela olhando bem séria, porque era uma lady, enquanto eu dizia: "tu é minha véia magrelinha?". não consigo segurar quando lembro dela me defendendo quando meu sobrinho batia nas minhas pernas com o carrinho de plástico. ela sentando no meu colo pra ele não bater mais e peitando ele, quase do tamanho do piá. e depois brincando com ele, fora daquela situação. ou quando lembro dela muito séria entrando na minha mala e deitando ali como se fosse a caminha dela.
lembro dela dormindo no meu colo quando sofremos os acidentes. e de como ela ficou assustada. e de como o meu reflexo foi segurar ela na hora que íamos entrando debaixo do caminhão, quando acordei sem entender o que estava acontecendo. e ela cuidando do THX quando ele tinha sido operado. e fugindo da veterinária e me dando o maior tombo da história.
um dos nossos três fantasminhas se foi. e a tristeza vem em golfadas cada vez que eu lembro que ela adorava a gente. e que deve ter sentido muito por não poder ficar mais.

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] segunda-feira, julho 16, 2012
 

bittersweet memory

minha dor é perceber que a ausência é esse fantasma. que se repete dentro da gente. ela diz que é ausente, ela lembra constantemente o vazio. um vazio que exige. não um vazio que existe como vazio, mas que dói em ser vazio. que se sabe ausência. que sabe do que. as ausências tocam em nosso ombro, elas vivem dentro da gente, e chamam. porque a ausência vigia os pensamentos. o vazio engole meus pensamentos, esfomeado. e meus pensamentos me atravessam. me atravessam como uma lâmina, me atravessam pra outra margem, quando já é dia e finalmente consigo fechar os olhos. por mais que eu explique que dor é essa, talvez ninguém jamais entenda um coração dividido entre a amarga falta e a agridoce esperança. porque a saudade aperta, a falta dói, a ausência exige. mas é doce. é doce porque também espera, deseja, projeta, sonha. deseja ardentemente, deseja com carinho. deseja com fúria, ou com compaixão. ninguém jamais vai entender a urgência que esse vazio anuncia. porque não é um vazio que qualquer massa preenche. e ao mesmo tempo a calma. a calma que as coisas boas nos fazem sentir.

minha dor é perceber que quando estou caminhando pela galeria da lembrança, o retrato que me detém leva um sorriso sincero no olhar, que se repete, dia após dia. um sorriso que vem acompanhado de um abraço escondido na brincadeira de tentar me impedir de registrar o sorriso pra sempre. e um olhar que ainda está nas paredes da minha memória, doendo em ausência, e doendo também em esperança. doendo docemente, doendo um pouco com medo, um pouco feliz. uma dor que agudiza mesmo a felicidade, que torna o desejo furioso mais furioso, o terno mais terno. porque a esperança, diferente do que parece, é algo que nem sempre nos isola dentro de um muro, mas é uma essência agridoce que sempre vem com certos sentimentos. desses sentimentos que por mais que se tente, não morrem. às vezes, quisera ter esse poder.











bittersweet memory, descobri depois, é uma música. e nem tudo o que ela fala tem a ver com o que estou pensando e sentindo neste momento.

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] sábado, julho 14, 2012
 
inked
tive uma crise de baixa auto-estima esses dias. não tem pessoa mais dura comigo que eu mesma. hoje mesmo meu orientando tirou 10 COM LOUVOR (o primeiro 10 COM LOUVOR do curso) e eu lembro de há bem pouco tempo, na qualificação dele, estar estressada porque achava que ainda tava faltando alguma coisa. e aí tem essas horas em que eu tenho essas crises, e fico soterrada por mil bigornas de baixa auto-estima. aí tava lá, desabafando com um amigo, quando ele me deu um soco.

cala a boca, meo! (o amigo, por acaso, é paulista. tem mais paulista em Pelotas que em SP. então esta frase deve ser lida com sotaque fortíssimo e a delicadeza peculiar)

cala a boca, meo! cê usa coturno e é toda tatuada, mano!

pedi que ele dissertasse sobre isso (é meu jeito de dizer: que porra isso tem a ver, criatura?). e ele disse que uma mulher que dá aula na faculdade de coturno é porque tem confiança em si mesma. e ninguém faz tatuagem em lugar super visível, ainda mais essas enormes aí, sem ter confiança no que é, disse ele.


engraçado.


eu, que achava que as tatuagens e os coturnos e até a armação dos óculos eram minhas defesas. de repente, foi como se me dissessem que o remédio que estou usando é placebo. e eu comecei a pensar se não é a tatuagem que me dá mais confiança, e não eu que deposito confiança nela. se não é o coturno que me permite enfiar o pé na porta. ou se não são os óculos que me protegem. e eu comecei a pensar no EU SOU. no que EU SOU e no quanto EU SOU tem importância pra mim. e em qual diabo será minha imagem pras pessoas?


como quando eu ouço de uma aluna (ok, ela tem 18, ainda precisa amadurecer bastante) que eu não tenho cara de mãe. eu, que me imagino grávida, toda tatuada, comprando camisetinhas dos Beatles tamanho 3 meses. pretas, claro. eu, que me imagino comprando coturninhos tamanho 33 na loja do exército, pro meu piá (ou minha piá) calçarem, porque é um sapato resistente e não precisa ser em couro. eu, que me imagino tatuando o nome de cada rebento, ou do um rebento. que me imagino levando a criança pra Paris e dizendo: ó, aqui foi feita a primeira exibição do cinematógrafo.


a verdade é que estou pouco me importando se alguém acha que eu não sou assim ou assado só pelo fato de eu parecer desse jeito. mas também é verdade que essas coisas me fazem parar pra pensar quem eu sou, de quando em quando. e quem será que eu sou? a pessoa das tatuagens grandes coloridas e visíveis ou a pessoa com crises de não se achar boa o suficiente. nem sequer boa?

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] quinta-feira, julho 12, 2012
 
certeza número 1: nada te prepara pro que a vida prepara pra ti.

certeza número 2: estar diante da morte é um momento de profunda tristeza e também de profundo absurdo, mas isso também não te prepara pra qualquer dor que a vida te reserve.

certeza número 3: existe um sentimento tão grande capaz de criar um inferno, quando tu nem acredita num, e te fazer ir até o inferno pra lutar por algo em que tu realmente acredita.

certeza número 4: a vida pode ser cruel exatamente no mesmo momento em que está te dando uma declaração linda de amor.

certeza número 5: eu não quero desistir.

certeza número 6: eu sou um ser humano. boba como um ser humano, vil como um ser humano, às vezes cruel ou má ou diabólica como um ser humano, frágil como um ser humano. e, como um ser humano, tenho a capacidade de arrancar meu coração fora se for preciso, mas como um ser humano, eu não arranco, porque eu sonho.

certeza número 7: as pessoas talvez não mudem. mas as pessoas podem se enganar sobre quem elas sejam.

certeza número 8: o que eu sei é o que eu sinto, e o que eu sinto me dá coragem.

certeza número 9: nada é por acaso, nem ninguém topa com ninguém só por topar.

certeza número 10: o que é pra ser, é.

certeza número 11:  já olhei dentro do teu olho. e eu sei o que eu vi.

certeza número 12: não tenho medo de carrancas.

dúvida número 1 e única: o que faz com que um engenheiro projete uma torneira do lado de fora de um apartamento no 17. andar?


certeza número 13: projetos às vezes revelam coisas que não são racionais, mas são verdadeiras.

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] segunda-feira, julho 09, 2012
 
queria poder dizer que a distância que me faz sentir impotente e sentir tanta saudade é a mesma que te faz viver e buscar essas coisas que estão entre tudo o que eu mais gosto em ti. não sei bem se perceber isso é amadurecimento, ou se é porque o que eu sinto é tão de verdade. ou se porque sou besta. ou se porque estou ficando meio doida. é um querer estar perto, mas querer inteiro, querer com todas as coisas que te completam. é um querer abraçar o mundo que tu tem dentro de ti. como eu quis uma vez, quando ouvi uma história de infância e avó numa terra distante, entre um gole e outro de café. como eu quis muitas outras vezes.

é estranho me dar conta de que a única pessoa que encaixa nos meus planos está do outro lado do mundo. num tempo diferente. é estranho se dar conta de que a única pessoa pra quem tu deseja dar teu mundo está separada de ti por um oceano. um mundo que tu reconstruiu sozinha, e que só tem importância se compartilhado. só é legal se eu te mostrar isso tudo. eu queria poder parar de atirar cartas ao mar e enviar uma carta à Rainha. pra que ela faça algum pronunciamento real para parar o reino distante. e neste pronunciamento real ela leia a minha carta: hoy, teus sonhos se encaixam nos meus sonhos(?), teus planos se encaixam nos meus planos(?), meu mundo está aqui, queria te dar isso, que é meio pouco, mas é meu. porque tu é a única pessoa no planeta de hoje 7 bilhões de seres humanos pra quem eu quero dar esse mundo.

será que a Rainha diria isso com sotaque cockney se eu pedisse?

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] domingo, julho 08, 2012
 
esta carta (numa garrafa solta no mar?) começa com: querido diário.

querido diário, hoje acordei de um sonho perturbador. não transformada em uma barata, mas perturbada. vim correndo tentar não perder o último fio de imagem que ainda guardava do sonho na cabeça. mas acabei perdendo. e, ainda com o coração quase saindo pela boca, tive a triste confirmação do quanto sou uma idiota, do quanto estou distante da realidade, do quanto queria ter algum alívio pro aperto que ando sentindo. estou confusa. meu mundo guardado numa caixinha no fundo da gaveta e estou confusa. a distância me aturde. queria que fosse mais fácil. que tivesse menos mimimi (odeio mimimi). queria que fosse menos dolorido, menos confuso. porque minha confusão não é de sentimentos. minha confusão é do que devo fazer com eles.

tenho tantos planos, querido diário. um deles ando escondendo de mim mesma porque se eu assumir como plano, tenho medo que vá ser destruído. é uma precaução estúpida, mas é uma medida de segurança contra a minha própria dor. há alguns anos aprendi a só ser feliz quando toco na realidade concreta. luto, dia após dia, pra realização dos planos que dependem apenas do meu esforço. me condeno quando não sou capaz de cumprir cada um deles. mas também luto, dia após dia, pra não depositar todas as minhas esperanças naquilo que não depende só de mim. porque sou passional e depositar esperanças, no meu idioma, significa abraçar com as pernas e braços. mas estou aqui agora, querido diário, admitindo que sou uma idiota, uma fraca. eu tenho planos, eu sonho muito alto. e tenho medo.

não tenho medo de patrolar as dificuldades com andar firme e algumas certezas que a vida da ciência me permite. não tenho medo de enfiar o coturno na porta quando estudei tanto tempo pra conquistar o que está lá dentro. porque cada fracasso na minha vida acadêmica e profissional é um desafio pra que eu seja ainda mais forte. eu tenho medo é de onde sou frágil. porque por baixo de toda a armadura que criei pra enfrentar desde o aluno de primeiro semestre até a recusa de um trabalho, eu quero coisas que muitos nem acreditam que eu queira, eu sou uma daydreamer bobinha de casinha com cerca branca (desde que dentro possa ter minha biblioteca, meu estúdio e minha sala de cinema modelo).

queria poder dizer, querido diário, que meu coração vive apertado entre a saudade e certeza dos meus sentimentos; e a admiração pelos sonhos alheios. queria poder dizer "hoy, eu fico realmente feliz que estejas vivendo essa experiência fantástica. eu fico feliz porque isso faz de ti aquilo que eu mais gosto". queria poder dizer que a mim, nenhum dos teus sonhos parece desfigurado. que apenas estou longe o suficiente pra ficar confusa. que queria poder te dar meu mundo e ter a chance de fazer parte desses sonhos, porque gostaria de ajudar a realizá-los. que eu acho que somos da mesma matéria, que somos iguais em mundos tão diferentes. que aceito teu humor assim como compartilho de muitos das tuas rabugices. mas, querido diário, eu sou uma idiota com medo. eu queria ser o segundo envolvido, querido diário. e adoro bulldogs, querido diário. adoro.

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] sábado, julho 07, 2012
 
espera. eu sei que eu é que enchi essa caixa de esperanças. eu sei que fui eu que decorei ela com carinho e enchi de esperanças. mas não foi culpa minha. aconteceu (de novo) tão de repente. as coisas que eu tinha guardado no fundo da gaveta apareceram todas. espera, não fui eu quem foi procurar. não pude evitar. tudo voltou. sozinho. independente de qualquer coisa. e eu achei que... talvez não devesse sufocar isso de novo. achei errado, claro. mas espera, eu sou humana. sufoquei por tanto tempo uma coisa que não era pra sufocar que uma hora ela apareceu de novo. com força. do nada. me acordou no meio da noite com um safanão, me exigindo que estivesse pronta. e eu não estava.

então espera, deixa eu dizer que não queria. eu não queria. quem é que quer sofrer? quem é que escolhe ser partido ao meio? quem é que opta por chorar? eu não queria, e quanto menos queria, mais transbordava. então espera, deixa eu respirar. porque se esta caixa vai ser partida de novo, então deixa que eu guardo. deixa que eu enfio ela debaixo de uma coberta, numa gaveta funda. deixa que eu enrolo a caixa no meio de algum lençol que eu nunca vá usar. porque assim as coisas que estão lá dentro ficam lá dentro. como sempre estiveram. e sempre vão estar. vou guardar com força e tentar não pensar mais. espera, se vai ser dolorido, que seja antes de atingir meus órgãos vitais (too late).

espera. eu guardei. pra preservar lá dentro tudo o que guardo com tanto carinho há tanto tempo. vou enterrar, se for preciso. fica com a parte que eu te dei, eu fico com esta aqui. e vou guardar. porque o tempo e os mundos podem mudar as pessoas. ou não. e nem sempre elas mudam juntas. que pena. porque dentro desta caixa, que guardei agora, eu ia te contar, tem o meu mundo. e de onde eu vejo, até era um mundo bonito. espera. já guardei. fico aí como lembrança. ficas aqui como lembrança. nunca vou te tirar de lá dentro. achei que a vida ia me explicar o motivo dessa brincadeira. essa brincadeira de me colocar no teu caminho. de te colocar no meu. mas é improvável que a vida me deva explicações.

guardei. vai ficar aqui pra sempre. porque eu acho que não suportaria que se quebrasse de novo. ou talvez eu aguente que se quebre todas as vezes, mas não por ti. não sei dizer.

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] sexta-feira, julho 06, 2012
 
quando um teste de cor dá errado. quando um teste de cor dá certo. eu penso em ti.
quando eu luto boxe. quando sinto falta do boxe. eu penso em ti.
quando desço a minha antiga rua. quando ando na minha nova rua. eu penso em ti.
quando tomo café. quando passo café. quando sinto cheiro de café. quando sinto falta de café. eu penso em ti.
quando eu compro um livro. quando vejo um livro. eu penso em ti.
quando eu penso que eu já esqueci, eu penso em ti. quando eu tento, eu não consigo. quando me distraio, penso em ti de novo.

quando penso em ti, sinto vontade de afundar os dedos nos teus cabelos.
quando penso em ti, desejo saber mais sobre muitas coisas, pra poder te impressionar.
quando penso em ti, finjo que não quero, não preciso, que me conformo.
quando penso em ti, sinto uma falta que não saberia explicar, nem com todo esforço intelectual do mundo.
quando penso em ti, sei que não te alcanço.
quando penso em ti, sei que não deveria.

mas quando penso em ti, me sinto uma pessoa melhor.
mas quando penso em ti, não sei nem onde esconder o que eu sinto.
mas quando penso em ti, não sei onde vou esconder meu sorriso.

e quando penso em mim, tento me convencer que por mais força que eu faça, eu não sou forte o suficiente. de novo. e pra sempre. e acho que nunca mais.

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every time I think of you I wish I was silly and talented to send you all my... ahn... a video like this


[ Penkala ] 01:27 ] 0 comentários

 
] quarta-feira, junho 27, 2012
 
sou uma cientista, tu sabes. e eu conheço mais do que ninguém os clichês dos filmes dramáticos. talvez por isso eu me sinta tão pouco à vontade no papel da cientista solitária no meio das pilhas de livros, mas sofrendo por ter que guardar certas coisas só pra mim. sou uma cientista, tu sabes, e não deveria estar achando que isso seja razoável. mas se colocar um manuscrito numa garrafa não é razoável, deverias saber que para os corações góticos das cidades úmidas das Américas ou do Velho Mundo, nada é razoável. o que escrevo e deixo no mar, apesar de tudo, não é a ficção científica de Poe. quem dera fosse ficção.

da minha terra e da minha família pouco tenho a dizer... apenas que o clima me deixa melancólica, e que a mesa é farta. se da mesa farta ando um tanto afastada, isolada no lugar onde passo meus dias trabalhando, vendo o prédio da faculdade da minha janela, da melancolia, quisera. a melancolia é a companheira ora confortável, ora ingrata de uma jovem cientista com o coração fechado. meu coração, tu sabes, está escondido num livro clássico que não leio, como uma rosa que vai, aos poucos, sendo esmagada entre as maravilhas da literatura científica. me entrego a ela, entrego meus dias e noites ao apenas pensar, problematizar, questionar, inventar questões pra que possa passar algum tempo tentando resolvê-las, quando não estou insone tentando fugir de mim mesma. tu bem sabes, meus luxos são poucos: a fuga do sono me parece o castelo mais confortável que um cientista de coração fechado pode ter.

tenho pensado tanto, e nas voltas que meu pensamento dá, me pego duvidando de que um dia eu seja capaz de encontrar a resposta pra pergunta que tem tirado meu luxuoso sono: por que atravessaste meu caminho? que karma nos une? qual a lição devo aprender? ou é só dor? ou é apenas a ausência? a saudade? sou uma cientista burra. continuo em busca da chave do armário onde talvez esteja escondida a resposta pra isso. estás mesmo disposto a arrombar o armário, caso não achemos a chave? o que devo aprender sobre a ciência não está no segundo volume da obra que tenho em casa, não está na minha ida e vinda da faculdade, não está nas longas horas que dedico a pensar antes de, finalmente, cair no sono. só o que sei é que se encontraste este manuscrito dentro de uma garrafa trazida por uma onda, é porque ele viajou por esse espaço de ausência pra chegar nas tuas mãos. é porque escrevi e joguei no mar, esperando também que o mar levasse as minhas tantas dúvidas, esperanças, desejos mais fortes. eu sei que jamais compreenderei os avanços na química de proteínas se não ler o volume 1. é como se dar um passo à frente e ler o volume 3 não fosse possível sem retornar ao ponto onde tudo isso começou. sou uma cientista, tu sabes. entre UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO e O SISTEMA DA NATUREZA, existe uma coleção clássica de um livro só. ou completo a coleção, ou minha estante jamais vai deixar de cobrar por essa falta.

[ Penkala ] 19:42 ] 0 comentários

 
] segunda-feira, junho 25, 2012
 
vendo meu álbum de fotos de FAMÍLIA & AMIGOS vi umas tantas pessoas que foram embora. que coisa dolorida é isso de as pessoas sempre irem embora. com umas perdi contato de tal maneira que de unha e carne se tornaram somente conhecidos. outras, decidiram se retirar por motivos que eu jamais vou entender. outras simplesmente foram embora, ou eu fui embora, mas ainda temos o vínculo forte. são aqueles pra quem eu teimo, e vou teimar em dizer sempre, que tenho uma saudade monstra. e tem ausência, espaço, uma foto de um momento de pura alegria e descoberta; um dia feliz de atividades (para)normais; o olhar que nunca se apaga. pra quem eu teimo em dizer que sinto saudade, mas estou mentindo. porque saudade a gente sente, sorri, lembra, e continua a vida. tem a foto pra quem confidencio sempre: falta. a falta é um espaço por preencher, é um espaço de esperança, é um espaço que dói. não se sorri, apenas se continua a vida carregando o peso da falta.

[ Penkala ] 03:02 ] 0 comentários

 
] domingo, junho 24, 2012
 
às vezes eu me sinto sozinha no meio de todos contra mim. às vezes, no meio de todos virados de costas pra mim. a única coisa que talvez me ligue ao mundo real dos seres humanos (eu me entendo tão bem com os cachorros!) é a esperança sem fim de encontrar num desses seres humanos o alívio pra uma existência que tem sido mascarada. eu uso máscaras o tempo todo pra que não reconheçam minhas fragilidades, mas principalmente minha falta de disposição em lidar com gente que me irrita, enoja ou simplesmente não me interessa. uso máscaras porque isso assusta as pessoas. embora eu tenha o luxo de não ser mais obrigada a conviver com muita gente que me provoca algum sentimento ruim por muito tempo. mas quando tenho, uso máscaras.

não que use máscaras pra não mostrar pra elas o rosto monstruoso que existe por trás dessa cara de óculos e olhos azuis. às vezes só pra esconder minha falta de habilidade em ser normal. porque isso também assusta as pessoas.

a esperança sem fim de encontrar seres humanos que me deem o alívio de viver sem máscaras me faz achar gente muito interessante. com quem tenho o prazer de ou conviver, ou trocar algumas palavras de vez em quando, ou até acreditar que possa ter um alívio ainda maior, que é poder dormir sem medo de que descubram meu pior lado.

mas basicamente, a existência tem sido dividida entre estar sozinha e armada contra todos e estar sozinha entre tantas costas viradas pra mim, no ombro de quem algumas poucas vezes toco perguntando, por códigos, se aquela pessoa é um dos meus.

desde muito cedo soube que era inadequada. não me encaixava em nenhum lugar. não que eu não sofresse com isso. eu apenas sabia, desde muito cedo também, que eu não tinha escolha. ou eu me adequava, ou permanecia isolada. e me adequar requeria, requer e sempre vai requerer agir normalmente. de verdade. falar de coisas normais, ser normal, viver normalmente e pensar coisas normais. não sei se por falta de interesse nisso ou se por profunda falta de habilidade, nunca vi isso como uma opção válida. então continuo sendo inadequada. nessa inadequação, aprendi a identificar seres com quem podia compartilhar o lugar inadequado. tão inadequados quanto eu. porque tenho simpatia por quem causa horror nas pessoas pelo simples fato de agir honestamente. e não estou falando desses "honestos de butique", que se dizem autênticos e não passam de pessoas que não sabem viver em sociedade. uma coisa é ser honesto e autêntico, outra é não ser civilizado. uma coisa é não ir a uma festa de confraternização da empresa porque tu acha que é idiota abraçar e confraternizar com pessoas que tu odeia, outra é tu ir e ser escroto com todos. digo honestos mesmo. que dizem quando não querem fazer algo, que assumem suas posições, que não dizem coisas bonitinhas pra alguém ouvir porque precisam dessa pessoa pra obter algum benefício.

o que eu não sabia era o quanto isso ainda ia me fazer sofrer MAIS. porque ou as pessoas são honestos de butique, mostrando toda sua mediocridade por trás da máscara de autênticos, ou as pessoas de fato vão do mínimo, o normal, pro máximo, o imbecil total, numa escala que consegue reunir  basicamente a maioria das pessoas que eu conheço. ou, numa terceira e não menos terrível opção, as pessoas são ex-inadequados. aqueles que fazem o esforço de vestir a máscara tantas vezes e com tanto afinco, que terminam virando normais. eu não culpo estas. aliás, nem culpo a maioria das pessoas. porque daqui, de onde estou, começo a ver que vai chegar um dia em que vou olhar pro lado pra tentar falar alguma coisa que acho importante e vou encontrar apenas zumbis. e de que adianta viver num mundo de zumbis sendo a única viva? talvez seja pior que ser um zumbi no meio de tantos vivos. e acho que, por pensar assim, tenho sido um zumbi há tanto tempo. mas, em vez de cérebros, eu procuro corações pra comer.

[ Penkala ] 23:59 ] 0 comentários

 
] quarta-feira, junho 20, 2012
 
me dar conta, cada dia mais, que meu coração não está vazio e frio, como eu vinha achando há muito tempo, mas sim preenchido por algo que está lá escondido no escuro é difícil. por um lado, é bom. me faz sentir viva, me faz sentir bem, me faz ter esperança. por outro, me dá medo. porque me dar conta, de repente, que o que eu tentei esquecer por uns 2 anos quase talvez não possa ser esquecido significa que eu preciso me preparar pra sofrer. ainda que há muito tempo não sentisse uma sensação tão boa quanto agora. tempos e distâncias e nem meses sem sequer ouvir falar não apagaram. desencontro não apagou. mágoa não apagou. um oceano vai apagar? pro meu bem, espero que a única coisa que eu sempre gritei - RESPIRA! - seja o que eu melhor saiba fazer agora. respirar, mergulhar no tempo e esperar estar noutro lugar quando vier à superfície de novo.

[ Penkala ] 22:34 ] 0 comentários

 
] terça-feira, junho 12, 2012
 
oh, capitão, meu capitão,
escrevo esta carta sem saber se jogo no oceano, se mando pelo correio, se deixo virar um fantasma. escrevo sem saber se encontro quem a receba, se, no idioma que escrevo, vais saber ler.
escrevo fazendo um pedido. capitão, meu capitão, um pedido sincero. que me salves do lirismo vazio, que me livres da poesia sem aura, que me deixes afundar no teu sofá e me contes piadas científicas até que eu durma.

oh, capitão, meu capitão, escrevo por não saber dizer, por não poder expressar, escrevo por precisar do teu conselho prático, da forma pragmática como enxergas a vida, ainda que exista poesia no teu método, ainda que exista uma beleza lírica nas tuas pirotecnias, ainda que exista verso nas tuas teses. capitão, meu capitão, escrevo porque preciso decifrar fórmulas. escrevo porque ainda acredito na ciência. escrevo porque perdi a fé na humanidade. escrevo porque sei que compartilhas do vazio da nostalgia de tempo nenhum, porque sei que compreendes minha necessidade de evidências. porque sei que da bruma não depreendes só a boemia dos invernos europeus, mas as partículas que nos afastam e nos unem. porque sei que o minuano que me faz chorar quando vem direto nos meus olhos não passa de um barco desgovernado, sem comandante, derivando em outros mundos e me afastando dos meus horizontes.

[ Penkala ] 02:42 ] 0 comentários

 
] quarta-feira, abril 25, 2012
 
faz quase um ano que parei de treinar. primeiro, faltou tempo, porque eu dava aula em outra cidade. depois, faltou dinheiro. eu senti primeiro o cansaço, porque treinar boxe te deixa preparado pra qualquer outra luta. comecei a cansar muito. depois, senti a necessidade de buscar o que a endorfina dos treinos me trazia. comecei a engordar de novo. depois, senti que aquela rotina de subir a ladeira da minha rua enquanto enrolava as ataduras nos dedos e controlava a respiração no passo rápido do aquecimento, ou de sair pro treino fizesse chuva, 2 graus negativos ou soprasse o pior Minuano, era o que mantinha minha mente em paz, era o que me fazia ter força pra continuar trabalhando, mesmo quando o corpo pedia descanso. era o que me dava força pra raciocinar mesmo sem ter dormido muito. era o que me dava disciplina.

mas parar com os treinos me afastou também dos meus comparsas de luta. pessoas com quem eu aprendi, pra quem eu ensinei, com quem passei a maior parte da minha semana nos dois últimos e terríveis anos da tese. pessoas que me olhavam no olho enquanto esquivavam dos meus golpes, pessoas de quem eu aprendi o ritmo, as falhas e as virtudes. foram companheiros, foram adversários, foram treinadores e treinandos.

e hoje, olhando fotos daquela época, me dei conta de que a imensa falta que eu sinto do boxe e dessas pessoas é porque a disciplina, a força pra aguentar às vezes dor, às vezes cansaço, às vezes ambos, o companheirismo e a rotina dos treinos literalmente salvaram minha vida. numa fase muito difícil, quando eu não dormia mais que 3 horas por noite, eu ia treinar religiosamente. eu não conseguia colocar nada na boca, porque sentia vontade de vomitar o tempo todo, mas porque eu precisava estar forte pra lutar, eu me forçava a comer antes de cada treino. quando eu não queria ver ninguém, porque tudo machucava, eu colocava o treino em primeiro lugar. quando eu passava meus dias agachada chorando, ou a noite escrevendo tantas páginas do meu diário, pra poder me livrar do sofrimento, eu não queria ir pro boxe. mas eu ia. então, quando eu digo que o boxe salvou a minha vida, não é modo de dizer. salvou, porque depois que eu parei de pensar em qualquer outra coisa que me impedia de tentar acabar logo com tudo, o boxe foi a única coisa que me impediu de engolir de uma vez só todos os remédios pra dormir que eu tinha parado de tomar porque me impediam de pensar, e que eu guardava numa caixinha pro dia em que decidisse parar mesmo de pensar, pra sempre. foi a única coisa que me impediu de ir até o fim com a faca e cortar logo o fluxo daquele sofrimento. eu decidi isso tantas vezes. mas quando eu não pensava em mais nada que me segurasse aqui, foi o boxe quem me impediu.

não tenho vergonha de parecer fraca porque pensei em fugir tantas vezes. eu estava fraca. a depressão tira uma das coisas que sempre sobrevivem num ser humano, ainda que se possa sofrer muito: o sentido da vida. depressão, não tristeza. não "uma fase ruim". não "época meio conturbada". depressão é uma coisa que funciona cortando qualquer sentido que viver possa fazer. e quando o sofrimento é tão extremo e a vida não tem mais sentido, o que nos segura? lutar foi o que me segurou.

[ Penkala ] 00:00 ] 0 comentários

 
] domingo, fevereiro 12, 2012
 
um dia uma mamografia detectou calcificações nos meus seios. não é todo dia que tu descobre que tem pedras no próprio peito. embora elas não fossem malignas, pelo que os exames apontaram, não é todo dia que tu leva na boa receber uma notícia dessas. eu nunca levei na boa. mas isso a gente esquece. vai no médico, vê se tá tudo bem ainda, e esquece. até a próxima visita ao médico.

ironicamente, foi mais ou menos na época que recebi essa linda notícia que minha vida começou a desandar. é injusto dizer isso, eu sei. mas desde essa época eu não consigo virar um ano sem dizer que o ano que passou foi uma merda, ainda. tem sempre uma coisa que estraga tudo.

e não é assim a vida?

é. a vida é feita de dias felizes e uns 10 de merda, mais dois ou três felizes e uns outros de desastres, fracassos, tragédias, problemas, suplícios. o triste é quando tu consegue dar conta da época exata em que tu começou a desandar. tu. uma entrada numa era em que tu tá desandando. e é aí que a história da pedra entra. eu tenho uma pedra no peito. e eu não consigo tirar. e a cada ano ela fica maior. e mais dura. e menos força eu tenho pra tirar.

não é todo dia que tu quer te dar conta disso.

mas uma vez que tu te dá conta disso, o que fazer? o que se faz pra arrancar uma pedra de dentro de ti? ela não sai por orifício algum. o que significa que vai ter anestesia geral, sangue, dor, roxões, invasão, e um certo gasto com tudo isso. com sorte, um bombardeio com laser vai fazer a pedra virar milhões de pedrinhas, e um catéter vai dar jeito de fazer com que essas areias escoem. mas antes isso do que tu passar anos com esse peso sem saber o que fazer. antes isso do que nunca te dar conta. antes isso que a pedra tome o tamanho do órgão.

não que eu seja uma pessoa amarga o tempo todo. não faz meu tipo. mas uma pedra no peito obstrui, pesa, machuca. e tu esquece quase sempre que não pode fazer tudo. tu tenta, e aí acontece alguma coisa e tu percebe que não era pra ter tentado antes de tirar a porcaria da pedra de lá. como se parece uma pessoa que tem uma pedra no peito? não sei os outros, mas eu pareço normal. eu dou minhas aulas, amo as pessoas que eu amava, cultivo um amor incondicional pelos meus bichinhos, me preocupo com meus alunos, ajudo todo mundo, dou risada, me apaixono, saio e curto música boa, me arrumo, pinto o cabelo, vou ao cinema, faço amigos, odeio pessoas, choro por bobagem e por coisa séria, fico estressada no final do semestre, me empolgo em discussões acadêmicas, converso pelo msn, escrevo bobagem no facebook, conto piadas (muito mal, como sempre), como chocolate feito louca na TPM. eu sou uma pessoa normal. mas eu consigo amar?

não. e com o tempo, passei a desacreditar que um dia possa voltar a amar. e aos poucos eu vou cometendo a injustiça de buscar alguém que me salve. alguém que corrija aquele homem. que seja o que ele não foi. homens pra isso não faltam, porque muita gente é o que ele não foi. o que eu não tinha me dado conta é de que ninguém jamais vai corrigir aquele homem dentro de mim. ninguém vai me salvar. porque não há como salvar o que já ocorreu. e quem tem que ser corrigida sou eu. (é fácil falar)

passar por cima não é possível. já tentei. substituir? não dá. ponto final. ponto final é o que uma pessoa precisa dar pra corrigir isso. e tirar a pedra de dentro de si. como é que se dá um ponto final nas coisas? não é com uma assinatura no papel, dar as costas, deletar. ponto final a gente dá quando finalmente consegue entender tudo o que se passou. parece simples. mas não é. falar é fácil. e de repente é isso mesmo que precise ser feito. falar em voz alta. como eu digo pros meus alunos lerem suas respostas absurdas na prova pra que entendam onde e como escreveram bobagem.

[ Penkala ] 17:47 ] 0 comentários

 
] sábado, dezembro 31, 2011
 
resoluções pra 2012

mas primeiro, revisar as de 2011:

me dar mais valor, me permitir sofrer menos, ser menos permissiva com os outros [ check. almost... ];acabar meu doutorado bem e relaxar, pela primeira vez em 8 anos de Porto Alegre e 6 anos de pós-graduação [ acabei, mas ainda não consegui relaxar ];
viver mais offline e perder o vício de internerds [ nope ];
publicar minha tese e minha dissertação [ nope ];
estudar francês, melhorar meu espanhol, falar mais inglês [ nope, nope, nope ];
visitar meus amigos em Nova York [ nope ];
visitar meus amigos em Madri [ nope ];
visitar meus amigos na França e em Portugal
[ nope ];publicar mais artigos [ ahn... quase ];
estudar tipografia mais a fundo
[ nope ];estudar mais sobre a II Guerra Mundial [ nope ];mudar de casa [ quase lá ];
ter menos medo, ter mais coragem, ser mais imperativa, me jogar de cabeça [ é, por ser ];
me entregar menos, receber mais [ yap ];
enfiar muito meus dedos nos cabelos de alguém. um alguém. um alguém meu. um alguém por muito tempo. um alguém pra virar 2011-2012 comigo [ ahn... ];
acordar mais vezes tarde sem sentir culpa [ pouco dormi ];
viajar muitas vezes de última hora pra qualquer lugar [ não. mas muitas vezes viajei. pra lugar determinado e específico ];
fazer mais jantinhas pros amigos [ nope ];
ver mais filmes, ir mais ao cinema [ fui muito ao cinema ];
aprender a costurar decentemente [ nope ];
fazer um curso de fotografia [ nope ];
fazer um curso de edição de vídeo [ nope ];
colocar em prática meus projetos literários [ nope ];
passar em algum concurso foda [ sort of. temporário, mas foda! ];
ter dinheiro pra livros, filmes, viagens [ nunca ];
voltar pro flamenco, treinar mais boxe, andar de bicicleta [ não voltei pro flamenco, dei uma parada no boxe e não andei nem uma puta vez de bicicleta ];
tirar minha carteira de motorista [ nope ];
conhecer Berlin, a terra de onde todo mundo vive dizendo que eu saí [ é, ainda não ];
deixar de esperar tanto aquilo que eu sei que não vai dar certo [ aham ];
saber que enquanto durmo tem alguém me cuidando [ yap ];
reclamar menos [ yap ];
me realizar mais [ yap... sort of ];
ignorar gente que me faz mal [ YAP! ];
me dar o luxo de riscar da minha vida pessoas que não me acrescentam nada [ YAP! ];
perder uns 5 quilinhos [ ganhei 12! ];
se não perder 5 quilinhos, não ganhar nenhum quilinho [ né? ];
parar de me preocupar com meu peso [ não, e nem vou ];
ver o sol nascer mais vezes, mas não por estar indo dormir, exausta de trabalhar. mas por querer compartilhar isso com alguém [ algumas vezes, de certa forma, ainda que torta ];
aprender algo novo [ aham ];
sentir que sou feliz [ aham, mas não por muito tempo ];
brigar mais com os outros e menos comigo mesma [ nope ];
pisar na areia, molhar meus pés no mar, mais vezes [ pisei bastante, até ];
dar um "check" em pelo menos 80% desta lista [ né? ].

AGORA as resoluções pra 2012:

fugindo dos lugares-comuns do emagrecer + ser feliz + ganhar dinheiro + viajar e essas coisas básicas, vou ser mais pragmática (com os espaços pra dar check no fim do ano que vem):

[ ] me realizar profissionalmente - porque ainda falta uma partezinha;
[ ] conhecer ao menos um dos lugares que quero conhecer;
[ ] desperdiçar menos dinheiro, gastar mais em livros e filmes e menos em bobagem;
[ ] tirar todo o peso que eu vivo carregando nas costas;
[ ] desobstruir a aorta;
[ ] conseguir a certificação da Federação de Boxe;
[ ] terminar de ler os livros sobre a II Guerra
[ ] cuidar da minha saúde;
[ ] comer bem menos, andar bem mais;
[ ] dormir pelo menos 8 horas por noite, em pelo menos 3 dias da semana;
[ ] ser mais rígida com os outros, menos rígida comigo mesma;
[ ] começar meu terceiro livro de ficção;
[ ] publicar ao menos um dos meus livros de ficção;
[ ] publicar a tese;
[ ] publicar ao menos 4 artigos importantes;
[ ] fazer as 3 tatuagens que me prometi em 2011 e obviamente não cumpri;
[ ] tirar minha carteira de motorista;
[ ] tirar as minhas primeiras férias de verdade em 9 anos;
[ ] morar com o THX, finalmente;
[ ] convencer minha mãe a fazer o exame que ela deveria ter feito já;
[ ] tirar todo o entulho que deixo em caixas há anos;
[ ] sair da depressão;
[ ] começar a aprender alemão;
[ ] cozinhar mais;
[ ] parar de vez com o frango;
[ ] largar um vício que seja ruim pra minha saúde física ou mental;
[ ] ir mais ao cinema;
[ ] andar mais de avião, menos de ônibus; mais à pé, menos de carro


...





AQUI, O HISTÓRICO DE FALHAS E CHECKS:


resoluções pra 2011

primeiro, revisar as de 2010:
* deste blog, publicadas no dia 03 de janeiro deste ano de 2010

das resoluções pra 2010

escrever mais ficção; [não escrevi quase porra nenhuma de ficção ]
dormir de conchinha sempre que possível; [ sim, mas muito poucas vezes ]
acordar de conchinha sempre que possível; [ o mesmo número de vezes, praticamente ]
acordar alguém; [ sim, mas eles passaram, todos. e eu fiquei ]
ser acordada por alguém; [ quase nunca. eu acordo sempre antes e durmo sempre depois ]
publicar meu livro de contos; [ nope ]
enterrar meus dedos nos cabelos de alguém muitas vezes; [ aham. e, ah como eu gostaria de continuar fazendo isso! ]
comer menos doces e tomar mais água; [ \o/ isso eu consegui! ]
caminhar, além de boxear; [ quase... ]
manter o treino de boxe e aumentar a frequência pra 4x por semana; [ não deu, ficaram 3, mas por culpa da academia ]
cozinhar mais; [ nope ]
receber mais amigos na minha casa; [ quase nunca ]
arrumar as porcarias pendentes na minha casa; [quase tudo que é tralha entulhada eu dei jeito de vazar... ]
ir pra Floripa visitar a irmã ao menos uma vez por semestre; [ sim ]
fazer algo de realmente divertido nas minhas férias; [ não tive férias ainda ]
ter férias; [ pois é ]
juntar uma graninha pra viajar; [ não deu ]
ir mais ao cinema; [ fui, até. mas não tanto quanto eu gostaria ]
voltar a fazer meus trabalhos de arte; [ nope ]
usar mais vestidos; [ yep! \o/ ]
trocar meus óculos; [ ahn... nope ]
parar de tomar remédios; [ parei. mas preciso voltar a tomar. ou seja: grandes merda que parei! ]
defender uma tese e publicar isso tudo; [ nope. ainda ]
tirar A na tese; [ pretendo, né? ]
dar mais aulas; [ dei menos aula, mas por um bom motivo ]
ser uma professora menos cansada; [ ahn... ]
ir a Montevideo e Buenos Aires; [ nope ]
conhecer outras cidades no Brasil; [ conheci Curitiba e São Paulo ]
fazer minha dupla cidadania portuguesa; [ nope ]
aprender a montar filmes; [ nope. a não ser tosco style ]
publicar ao menos 4 artigos bons; [ nope ]
participar de mais congressos; [ nope ]
criar coragem pra fazer carteira de motorista; [ nope ]
falar mais em inglês; [ yap. mas menos do que deveria ]
fazer um checkup geral; [ sort of ]
ter os braços torneados da Michelle Obama; [ quase. quer dizer... bom, deixa pra lá ]
comprar um sofá confortável; [ nope ]
ir ao templo de 3 Coroas; [ nope ]
acabar de fotografar os prédios bonitos em Pelotas; [ nope ]
dar um jeito no meu espanhol; [ no. puta madre, no! ]
pensar onde vou fazer meu pós-doc; [ yap. já pensei ]
assistir a todos os filmes que eu tenho em casa e que ainda não vi; [ iiiiiiih. não. e ainda tem bem mais filmes ]
sair mais vezes pra jantar fora e menos pra almoçar fora; [ menos pra almoçar fora. e quase nunca pra jantar fora ]
gastar menos com besteiras (ah, nem gasto tanto assim!) e mais com livros e filmes; [ gastei muito com filmes e livros ]
ser menos crítica comigo mesma, menos afobada com o mundo, mais tolerante com as frustrações; [ kinda ]
chorar menos, dormir mais vezes sorrindo; [ ahn... nope ]
dormir mais; [ que vocês acham? ]
planejar menos e fazer mais; [ ahn... ]
me preocupar menos e [ o texto acaba aqui, por algum motivo que nem sei. mas é, eu me preocupo MAIS. ainda... ]

. . .


[ Penkala ] 02:09 ] 2 comentários

 
eu uso óculos




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